terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Os Pretos

As grandes metrópoles do período colonial: Portugal, Espanha, Inglaterra, França, subjugaram nações africanas, fazendo dos negros mercadorias, objetos sem direitos ou alma, os negros africanos foram levados a diversas colônias espalhadas principalmente nas Américas e em plantações no Sul de Portugal e em serviços de casa na Inglaterra e França.
Os traficantes coloniais utilizavam-se de diversas técnicas para poder arrematar os negros, chegavam de assalto e prendiam os mais jovens e mais fortes da tribo, que viviam principalmente no litoral Oeste, no Centro-oeste, Nordeste e Sul da África, trocavam por mercadoria: espelhos, facas, bebidas, etc.
Os cativos de uma tribo que fora vencida em guerras tribais ou corrompiam os chefes da tribo financiando as guerras e fazendo dos vencidos escravos. No Brasil os escravos negros chegavam por Recife e Salvador. Os primeiros grupos que vieram para essas regiões foram os bantos; cabindos; sudaneses; yorubás; geges; hauçá; minas e malês. A valorização do tráfico negreiro, fonte da riqueza colonial, custou muito caro; em quatro séculos, do XV ao XIX, a África perdeu, entre escravizados e mortos 65 a 75 milhões de pessoas, e estas constituíam uma parte selecionada da população. Arrancados de sua terra de origem, uma vida amarga e penosa esperava esses homens e mulheres na colônia: trabalho de sol a sol nas grandes fazendas de açúcar. Tanto esforço, que um africano aqui chegado durava, em média, de sete a dez anos! Em anos!
Em troca de seu trabalho os negros recebiam três "pês": Pau, Pano e Pão e reagiam a tantos tormentos suicidando-se, evitando a reprodução, assassinando feitores, capitães-do-mato. Em seus cultos, os escravos resistiam, resistiam, simbolicamente, à dominação.
A Religião africana era, e ainda é, um ritual de liberdade, protesto, reação à opressão. As rezas, rezas, batucadas, danças e cantos eram maneiras de aliviar a asfixia da escravidão, desta cultura religiosa nasceu a Umbanda. A resistência também acontecia na fuga das fazendas e na formação dos quilombos, onde os negros tentaram reconstituir sua vida africana. Um dos maiores quilombos foi o Quilombo dos Palmares onde reinou Ganga Zumba ao lado de seu guerreiro Zumbi (protegido de Ogum). Os negros que se adaptavam mais facilmente à nova situação recebiam tarefas mais especificas como:
Reprodutores, caldeireiro, carpinteiros, tocheiros, trabalhador na casa grande (escravos domésticos) e outros, ganharam alforria pelos seus senhores ou pelas leis do Sexagenário, do Ventre livre e, enfim, pela Lei Áurea.
A Legião de espíritos chamados "Pretos Velhos" foi formada no Brasil, devido a esse torpe comércio do tráfico de escravos arrebanhados da África.
Estes negros aos poucos conseguiram envelhecer e constituir mesmo de maneira precária uma união representativa da língua, culto aos Orixás e aos antepassados e tornou-se um elemento de referência para os mais novos, refletindo os velhos costumes da Mãe África. Eles conseguiram preservar e até modificar, no sincretismo, sua cultura e sua religião.
Idosos mesmo, poucos vieram, já que os Senhores feudais preferiam os jovens e fortes, tanto para resistirem ao trabalho braçal como às exemplificações com o látego.
Porém, foi esta minoria o compêndio no qual os incipientes puderam ler e aprender a ciência e sabedoria milenar de seus ancestrais, tais como o conhecimento e emprego de ervas, plantas, raízes, enfim, tudo aquilo que nos dá graciosamente a mãe natureza. Mesmo contando com a religião (Candomblé, Cultos aos mortos, etc), suas cerimônias, cânticos, esses moços logicamente não poderiam resistir à erosão que o grande mestre, o tempo, produz sobre o invólucro carnal, como todos os mortais.
Mas a mente não envelhece, apenas amadurece, não podendo mais trabalhar duro de sol a sol, constituiu-se a nata da sociedade negra subjugada. Contudo, o peso dos anos é implacavelmente destruidor, como sempre acontece, o ato final da peça que encarnamos no vale de lágrimas que é o planeta Terra é a morte.
Mas eles voltaram e a sua missão não estava ainda cumprida, precisavam evoluir gradualmente no plano espiritual.
Muitos ainda, usando seu linguajar característico, praticando os sagrados rituais do culto, utilizados desde tempos imemoriais, manifestou-se em indivíduos previamente selecionados de acordo com a sua ascendência (linhagem), costumes, tradições e cultura.
Teriam que possuir a essência intrínseca da civilização que se aprimorou após incontáveis anos de vivência.
Assim sendo, surgi a Umbanda em 1908, que nasceu com a contribuição primeira de uma entidade chamada Pai Antonio, um Preto-Velho que como muitos outros que surgiram vieram trazer sua contribuição, com suas curas e rezas e principalmente sua simplicidade e sabedoria.
Sabedoria esta que se resumi a uma só fé, a fé no ser supremo, nosso pai Oxalá (Deus) ou Zâmbi para muitos ou Obatalá ou ate mesmo a Jesus Cristo.
Pois a maior influencia da Umbanda e o Cristianismo, logicamente com suas raízes afros, mais como costumo dizer, afro-brasileira.
Os Pretos-Velhos de Umbanda
Esta Falange abrange nossos queridos Pretos-Velhos e Pretas-Velhas, trabalhando sobre orientação de Omolu/Obaluaê ou Yorimá.
É um conselheiro por excelência da gente moça do século que segue, sua natureza racial expressa naturalmente boa vontade, paciência, tolerância, mansuetude e alegria que se configuram na música, na dança mágica, vigorosa e jubilosa, no gestual comedido, na fala calma e mansa de quem já compreenderam perfeitamente que a vida é a suprema doação do Grande Ser Olorum ou Zâmbi.
Desencarnados, ampliaram seu senso de observação sobre si mesmos e sobre as pessoas encarnadas da dita sociedade brasileira de consumo, imitadora do primeiro mundo. Originalmente dos cinco milhões de escravos aqui desencarnados, somam-se a estes outros milhões de descendentes, dos quais quase um terço optou pela nova e genuína religião implantada no plano físico, no Brasil de 1908. Aproximou-se dos sinhozinhos e sinhazinhas por meio da mediunidade – ponte entre os dois planos, para prestarem favores de alma para alma. Descobriram que este intercâmbio gera moeda de evolução para uns e outros, quando bem sucedido; e esses favores estendem-se até o último dia do desencarne de seu tutelado.
Na hora extrema, conduzindo-os, seguramente, aos familiares que se foram antes para o plano das emoções e ansiosos aguardam pela chegada dos que ficaram.
No Candomblé os Pretos-Velhos são considerados Eguns.

Nenhum comentário: