No final deste texto darei quatro passos bem práticos que tomo ao entrar na arena de cada dia onde devo fazer escolhas morais. Mas mais importante que minhas recomendações para estes passos é a minha explicação sobre o solo de onde as tirei. Se não lhe oferecer as raízes e o tronco, a flor certamente murchará em suas mãos. Então a maior parte do que tenho a dizer será um esforço de expor à vista as raízes de onde a flor de minhas escolhas morais florescem.
O método que seguirei consistirá de quatro questões, cada
uma sendo mais precisamente definida do que a anterior. Depois de responder a
quarta questão, darei os passos práticos que sigo em tomar decisões morais.
Questão Um
"Como eu faço uma escolha moral?"
O primeiro passo em responder esta questão deve ser
definir os termos "escolha" e "moral".
Escolha: Eu apresento minha
definição de "escolha" em três formas.
1.
Uma escolha é um ato pela qual prefiro uma
coisa sobre outra.
2.
Isto é, este é o ato pelo qual eu estimo algo
preferível e mais desejável do que outro.
3.
Ou finalmente, minha escolha é meu prazer
maior em uma coisa do que em outra.
Moral: Chamo um ato de
preferir "moral" quando ele pode ser propriamente julgado certo ou
errado. Em geral, minhas preferências por chocolate em vez de baunilha, ou
listras em vez de xadrez não são
uma escolha moral. Mas a minha preferência em ser honesto ao invés de enganoso
é uma escolha moral por poder se julgado propriamente certo ou errado.
Questão Dois
Na base destas
definições a questão um agora se torna: "Como posso preferir uma coisa em vez da outra de forma que a
preferência possa ser propriamente julgada ser certa?"
Para responder esta
questão, o termo "certo" deve ser definido. Isto é, devemos perguntar:
"O que constitui a retidão de
uma escolha moral?"
Neste ponto devo buscar a estrutura cristã de meu modo de
pensar e viver. Vou assumir aqui (o que penso poderia ser razoavelmente
defendido se tivéssemos tempo) que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus existiu e
que Ele tem revelado a si mesmo e a sua vontade na Escrituras Cristãs. Dentro
desta estrutura eu gostaria de mencionar primeiro uma resposta inadequada e
então o que penso ser uma resposta adequada à questão, "O que constitui a
retidão de uma escolha moral?"
1.
Uma resposta inadequada - A
típica resposta que alguém escolhe corretamente quando escolhe a vontade de
Deus é ambígua e por isso inadequada. Se a vontade de Deus é concebida como
atos externos - como não matar, não roubar, e falar a verdade - desconectados
do motivo pelo qual estes atos são feitos, então fazer a vontade de Deus talvez
tenha nenhum valor moral. Deus pode desejar coisas que quando praticadas por
homens são pecaminosas.
Por exemplo, Deus desejou que os assírios destruíssem o Reino do Norte de Israel (Isaías 7:17-19), mas eles pecaram em o fazê-lo, de acordo com Isaías (Is. 10:12) porque eles o fizeram arrogantemente. Por causa disso, é inadequado dizer que a retidão de uma escolha moral está em preferir fazer aquilo que Deus quer que seja feito. Uma coisa feita sem bom motivo não possui bem moral.
Por exemplo, Deus desejou que os assírios destruíssem o Reino do Norte de Israel (Isaías 7:17-19), mas eles pecaram em o fazê-lo, de acordo com Isaías (Is. 10:12) porque eles o fizeram arrogantemente. Por causa disso, é inadequado dizer que a retidão de uma escolha moral está em preferir fazer aquilo que Deus quer que seja feito. Uma coisa feita sem bom motivo não possui bem moral.
2.
Uma Resposta Adequada (tanto
quanto posso ver) - Uma escolha ou preferência é correta quando é motivada pela
percepção verdadeira e deleite na beleza moral do ato escolhido. Ou de outra
forma, para escolher retamente, devemos preferir um ato não apenas por ser a
vontade de Deus, mas também por concordar profundamente com Deus que aquele ato
é moralmente belo e digno de louvor.
Por exemplo, uma escolha de não mentir, o que em um senso é a vontade de Deus, tem nenhum valor moral a não ser que seja feita com clara percepção e deleite na beleza moral de falar a verdade.
Por exemplo, uma escolha de não mentir, o que em um senso é a vontade de Deus, tem nenhum valor moral a não ser que seja feita com clara percepção e deleite na beleza moral de falar a verdade.
Ou de novo, Romanos 12:13 nos admoesta a contribuir com as
necessidades dos santos. Mas 2 Coríntios 9:7 nos diz para não o fazer "por
constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria." Isto é, o mero
ato de dar aos pobres pode não ser moralmente um ato bom. Ele é bom quando o
doador vê e se deleita na beleza moral da generosidade. Como Paulo diz em 1
Coríntios 13:3 "E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento
dos pobres... e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria."
(Porque o amor "não busca seus próprios
interesses" mas "se alegra com a verdade", isto nos moverá a ser
generosos não por interesse pessoal, mas por deleitar-nos na verdade que
generosidade aos pobres é moralmente bela.)
Questão 3
Tendo definido a
retidão de uma escolha moral desta forma, nossa questão se torna,"Como posso perceber verdadeiramente e deleitar-me no que é
moralmente belo?"
Aqui novamente várias definições se fazem necessárias. O
que é "beleza moral"? Eu sugiro uma definição em três partes:
1.
A beleza moral de um ato humano é a harmonia
entre o ato e a totalidade da realidade;
2.
um ato é moralmente belo quando apropriado ou
adequado à luz da verdade;
3.
um ato é moralmente belo quando é apropriado à
vista de nossa verdadeira situação humana.
Nesta definição de beleza moral eu usei os termos
"realidade", "verdade" e "situação humana". Estes
devem ser definidos e aqui é onde o meu entendimento das Escrituras se torna
crucial. Eu começo com a básica noção que tudo no universo, do menor inseto na
grama à maior constelação, pertence a Deus, porque Ele os criou (Salmo
50:10-12). Segue-se que cada pequena coisa que temos é uma dádiva de Deus, que
nós não merecemos o nascer diário do sol ou a definitiva ressurreição de Jesus
(1 Coríntios 4:7; Tiago 1:17). Deus é movido para abençoar os homens não por
causa de nenhuma distinção que eles tenham, mas por causa da abundante
plenitude de sua glória. Mostrar sua glória a todas as suas criaturas nos céus
e na terra é sua meta em tudo o que faz. Ele faz isto fundamentalmente (apesar
de não apenas) por esbanjar-nos com as riquezas de sua bondade em nossa
indignidade absoluta.
Já que Deus é a fonte
e o sustentador de tudo o que existe (Atos 17:28), seus objetivos na criação e
redenção assim como seus modos de atingir estes objetivos são a realidade, averdade e
a situação humana com
a qual o comportamento humano deve concordar para ser moralmente belo. O
conceito bíblico de andar em acordo com o Espírito significa, semelhantemente,
trazer os pensamentos e os feitos do homem em harmonia com a mente e os
caminhos de Deus.
Para ser mais
específico, a verdade fundamental sobre
a condição humana que pode influenciar o nosso comportamento é que somos
beneficiários da grande misericórdia de Deus. Não importa quão grande ou
pequeno nossos prazeres são, nós não os merecemos. Eles vem da misericórdia de
Deus como um presente, não um salário. Portanto, o único comportamento moralmente belo é o comportamento
próprio de um beneficiário da misericórdia. Se uma escolha moral não se harmoniza
com o fato fundamental de que cada segundo de cada benefício que desfrutamos é
uma dádiva imerecida, então a escolha é má.
Questão Quatro
Tendo definido
"beleza moral" desta forma, nossa questão se torna: "Como chego a perceber verdadeiramente e deleitar-me em ações
próprias a um beneficiário de misericórdia?"
Tentarei responder esta questão descrevendo duas condições
que você deve satisfazer se quiser ver e deleitar-se em ações próprias de um
beneficiário da misericórdia.
Primeira
Condição
Você deve acreditar em
seu coração que você é um
beneficiário da misericórdia e deve ser feliz por isso. Porque se você ressente
ser um beneficiário de pura misericórdia e prefere pensar de si mesmo como
merecedor e ganhador do que tem, então você não terá o desejo de trazer suas
ações em harmonia com a realidade da misericórdia. Ao invés disso, seu
comportamento tenderá a harmonizar-se com a sua concepção de seu próprio
mérito.
Saber que você é um beneficiário da misericórdia de Deus e
alegremente depositar suas esperanças nesta misericórdia é o que o Novo
Testamento chama de fé. E o processo de se tornar este tipo de pessoa é chamado
novo nascimento, nova criação, tornar-se como criança, etc. Isto é um milagre
realizado no coração pelo Espírito de Deus. Esta é a primeira condição que você
deve satisfazer se quiser ver e deleitar-se nestas ações como um beneficiário
da misericórdia.
A
Segunda Condição
A transformação efetuada no novo nascimento é decisiva mas
incompleta. Portanto, nós somos chamado para ser transformados pela renovação
da nossa mente para poder aprovar o que é moralmente belo (Romanos 12:2). Este
contínuo processo de tornar-se novo resulta numa crescente sensibilidade da
nossa condição verdadeira de indignos beneficiários de misericórdia e uma
crescente conscientização de que tipo de comportamento se harmoniza com tal
condição.
Existe uma dupla função da Bíblia em
relação a esta transformação. Primeiro, é precisamente pela Bíblia que somos
sensibilizados em nossa indignidade diante de Deus e sua grande misericórdia
para conosco. De acordo com 2 Coríntios 3:18 quanto mais meditarmos na glória
de Deus em Cristo, mais seremos transformados em sua semelhança. As Escrituras
são o foco desta meditação e os meios da nossa transformação.
Segundo, os
comandos e admoestações das Escrituras são todos descrições de comportamento de
um beneficiário da misericórdia. Desta forma, eles fornecem diretrizes pelas
quais podemos mensurar o nível de nossa "novidade" em Cristo. O ideal bíblico
para a pessoa de moral é que a lei seja escrita no nosso coração (Jeremias
31:33) de forma que não precisemos ser impelidos por regras externas. Por isso
quanto mais cumprirmos mandamentos pelo deleite espontâneo em sua beleza moral,
maior o grau em que seremos transformados à semelhança de Cristo. Entretanto,
enquanto ainda somos imperfeitos e sujeitos ao auto-engano, não podemos
dispensar as diretrizes externas da Escritura. Elas continuam uma parte
necessária de nossas vidas, acelerando nossa sensibilidade estética ao que é
moralmente belo e reprovando-nos quando estamos muitos duros para ver e deleitar-nos
nas escolhas morais próprias de um beneficiário da misericórdia.
Passos Práticos em Fazer Escolhas Morais
1.
Eu oro para
que Deus seja reverenciado em e através de mim; que Ele aumente meu amor por
sua glória; que Ele não me deixe crescer em insensibilidade para com sua
misericórdia, mas faça com que eu a estime mais do que qualquer coisa neste
mundo; e que através de tudo isso Ele não me deixe cair em tentação, mas me
guie nos caminhos de justiça por amor de Seu nome.
2.
Eu tento meditar nas Escrituras dia e noite, desejando saturar meu
pensar com a estrutura de pensar de Deus. Eu tento permanecer alerta aos testes
que me chamam de algum torpor de pecado que eu possa ter caído. Eu tento
prestar atenção especial aos lugares onde a realidade de Deus explicitamente
colide com meu comportamento (e.g. A Parábola do Servo Incompassivo, Mateus
18:23-35). A Palavra de Deus é a ferramenta que Deus usa para responder a
oração que faço: nela eu vejo que estou sendo transformado (tudo muito devagar)
em uma pessoa que vê e se deleita em comportamento próprio de um beneficiário
da misericórdia.
3.
Eu conscientemente ponho minha esperança na promessa de Deus de que Ele está trabalhando em tudo
para o meu bem (Romanos 8:28; Jeremias 32:40-41), para que minha mente e coração
descansem em sua misericórdia. Em um nível que eu desfrute deste contentamento
da alma dado por Deus que eu possa ser livre de orgulho e medo que podem
levar-me a manipular ou abusar de pessoas para meus próprios fins, uma vez que
meus fins já estão satisfeitos na misericórdia de Deus.
4.
Enquanto confronto as escolhas morais durante
o dia, se tempo e circunstâncias permitem, tento entender os efeitos de cada escolha na vida das pessoas. Então, baseado
neste entendimento e tudo que já passou, escolho o que me parece naquela
situação ser mais apropriado para um beneficiário da misericórdia e assim dar
glória a Deus.