sábado, 1 de novembro de 2008

Zumbi o Rei Negro e os Quilombos

Zumbi o Rei Negro e os Quilombos________________________________________

Embora se costume atribuir, mais ou menos arbitrariamente, a data de 1630 para o início da existência plena dos Palmares, pesquisas recentes indicam que desde os primeiros tempos do século XVII as autoridades, como o governador de Pernambuco Diogo Botelho, se preocupava com o ajuntamento de negros fugidos na região que se estendia da zona ao norte do curso inferior do São Francisco, em Alagoas, até às vizinhanças do cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco.
Uma expedição comandada por Bartolomeu Bezerra havia sido mandada, entre 1602 e 1608, para exterminar o agrupamento rebelde.
Entretanto, o assombroso crescimento do quilombo deu-se efetivamente a partir de 1630, quando as guerras com os holandeses desarticularam momentaneamente a economia e a organização açucareiras, relaxando a vigilância dos senhores.
Mesmo na Bahia, as fugas em massa de escravos durante a luta foram comuns, permitindo a formação dos aldeamentos de Rio Vermelho e Itapicuru, destruídos respectivamente em 1632 e 1636.
Nos Palmares (região assim denominada pela presença intensa da palmeira pindoba), os negros se espalharam por uma região acidentada e de difícil acesso, coberta de espessa mata tropical, o que dificultava as investidos dos brancos.
Estes exigiram das autoridades alguma ação contra o quilombo desde o tempo do domínio holandês. Os capitães Rodolfo Baro e Blaer atacaram-no respectivamente em 1644 e 1645, com escassos resultados.
Por volta dessa época, os aldeamentos deviam contar com cerca de 6 mil pessoas, número que se multiplicaria bastante, mais tarde.
A natureza, embora inicialmente áspera, facilitava a sobrevivência, pela abundância de árvores frutíferas, animais de caça e rios piscosos que também resolviam a necessidade de água, em locais de fácil acesso. Derrubada a mata em clareiras, o solo restava fértil e úmido para o plantio.
Experientes no trabalho agrícola, os negros mantinham plantações que lhes propiciavam farta subsistência, chegando a gerar excedentes em pequena escala. Além da alimentação natural, a mata lhes fornecia também os materiais necessários à construção de suas choças, normalmente feitas de várias palmeiras, ao fabrico de seus móveis rústicos e utensílios, bem como argila para sua cerâmica.
Em alguns aldeamentos, praticavam uma metalurgia rudimentar, e os relatos falam de uma série de atividades artesanais entre eles. Entre os produtos agrícolas, destacava-se o milho, do qual muitas lavouras foram encontradas e destruídas pelos brancos, a mandioca, o feijão e a batata-doce. Banana e cana-de-açúcar também eram cultivadas, para o fabrico de rapadura e aguardente.
A importância das plantações palmarinas pode ser avaliada pelo fato de que o próprio Rei D. Pedro II (1683-1706), em despacho referente a uma das expedições que deviam atacar o reduto, recomendava que a data desta coincidisse com a época de colheita dos negros, para permitir o abastecimento da tropa.
As aldeias que compunham o quilombo eram chamadas mocambos, ajuntamentos de casas primitivas cobertas de folhas de palmeira, protegidos por paliçadas duplas de madeira.
Espalhados por uma área de cerca de sessenta léguas (por volta de 1675), eles chegaram a abrigar uns 20 mil habitantes, segundo Jácome Bezerra, em 1671, ou 30 mil, segundo Brito Freire. Essa população era bastante heterogênea. Entre os negros, encontravam-se elementos das mais variadas nações africanas, com predomínio de originários da Costa da Guiné, mas no quilombo havia também mestiços brasileiros e indígenas.
No mocambo do Engana-Colomim, quase só havia índios, vivendo e lutando ao lado dos negros em uma fraternidade racial nascida do conflito comum com o branco.
Nos rituais religiosos e nos hábitos culturais (sobre os quais existem poucos dados), isto interferia, na medida em que tudo ganhava um caráter sincrético. Não foi possível determinar o grau de predominância de alguma das culturas da costa guineana nos hábitos palmarinos, mas sabe-se que estas eram bastante misturadas com o catolicismo popular, como nos futuros "Candomblés" e "Umbandas".
No mocambo do Macaco, existia uma capela com imagens de divindades católicas e rezavam-se orações cristãs, chegando até a se celebrarem casamentos. As uniões conjugais, por sua vez, também não tinham regras fixas, encontrando-se tanto a monogamia quanto, como no caso do rei Ganga-Zumba, com suas três esposas, a poligamia.
Os portugueses, na tentativa de descaracterizar a organização social palmarina, pouco anotaram sobre seus padrões e normas éticas, mas sabe-se que, seguindo tradições africanas, "o roubo e o assassínio eram igualmente punidos com a morte".
Quanto aos negros que, no caso de uma incursão palmarina contra alguma fazenda das vizinhanças, se recusassem a unir-se aos fugitivos, eram feitos escravos até que concordassem em libertar mais algum cativo. É importante notar que as expedições contra as senzalas, que aterrorizavam os senhores, eram uma prática não muito comum depois que o quilombo atingiu suas dimensões máximas: os senhores das redondezas acabavam por entrar em acordo com os quilombolas, para uma convivência pacífica.
A "colaboração" de brancos com os rebeldes de Palmares foi muito freqüente. Os seus excedentes agrícolas interessavam aos lavradores e mascates, que os trocavam por armas e utensílios.
Por outro lado, para se prevenir de um ataque, alguns senhores pagavam uma espécie de tributo aos mocambos, práticos veementemente condenados pelas autoridades, que também puniam o comércio. Domingos Jorge Velho denunciou o Desembargador Cristóvão de Burgos, proprietário dos arredores palmarinos, como "colono dos negros", impedindo-o de entrar novamente na posse de suas terras após o término da guerra contra aqueles.
Essa "colaboração" prendia-se, como a trégua que seria assinada em determinada ocasião entre Ganga-Zumba e o governo de Pernambuco, à realidade efetiva do poder que os negros conseguiram na região. Embora não tivessem objetivos diretamente políticos, e pretendessem apenas a liberdade e o bem-estar, os fugitivos concentrados em Palmares representavam por isso mesmo um elemento profundamente subversivo da ordem colonial, a ser incessantemente combatido pelos senhores e autoridades.
E por isso mesmo, na medida em que adquiriam mais forças, podiam impor politicamente, através de negociações, alguns de seus objetivos.
Da mesma forma, organizaram um verdadeiro Estado em moldes africanos, em que os chefes dos mocambos, organizados na forma de comunidade tribal, elegiam o rei, baseados em critérios como coragem, força e capacidade de mando. O primeiro rei foi Ganga-Zumba, substituído depois de morto por seu sobrinho Zumbi, não por um critério de hereditariedade, mas pela liderança efetiva que este exercia, e que chegou a empanar a de Ganga-Zumba nos últimos anos de sua vida.
Entretanto, a existência do Estado palmarino era absolutamente incompatível com a ordem lusitana e branca; ele devia ser incontinenti destruído.

As guerras dos Palmares_________________________________________________

As guerras dos Palmares evidenciaram a coragem e o engenho que o amor à liberdade incutiu nos negros rebeldes, sua capacidade de resistência aos ataques brancos, permitindo-lhes manter-se por mais de 65 anos, manifestou-se também no fato de que o quilombo foi o único a ter fortificações regulares, cuja eficácia causava espanto ao inimigo, ao mesmo tempo em que os negros se valiam também (e principalmente) da guerra de movimento, em um terreno por eles bem conhecido e que multiplicava as agruras dos atacantes.
Já nos referimos acima aos ataques levados a efeito pelos holandeses, sem sucessos significativos; os negros, advertidos da expedição Blaer-Rejmbach (1645), simplesmente se retiraram para o mato, abandonando a maior parte de seus mocambos. A expedição de Baro (1644) também não passou de uma "escaramuça".
Depois da expulsão dos batavos, em 1654, durante muito tempo houve apenas incursões policiais, ou de bandos de jagunços, que os senhores de engenho enviavam como represália por ataques às suas senzalas. A primeira "entrada" de grande porte enviado aos Palmares foi a do mestre-de-campo Zenóbio Accioly de Vasconcelos, em 1667.
Zenóbio atacou pela retaguarda, subindo o rio Panema e, na serra do Comonati, destruiu um mocambo e fez algum reconhecimento da região.
Esta entrada fora organizada pelo governo de Pernambuco, mas as dificuldades financeiras deste, agravadas pela crise do comércio açucareiro que se iniciava, levaram-no a deixar aos cuidados das vilas próximas o combate ao reduto.
Estas logo fizeram entre si acordos de união financeira e militar para a luta, como o tratado entre Alagoas e Porto Calvo em 1668, ou aquele entre essas duas, Serinhaém e Rio de São Francisco (hoje Penedo), em 1669.
Tais acordos nunca saíram do papel, havendo apenas notícias de ataques de pequenos bandos a grupos isolados de negros, que resultavam em reconduzir uns poucos às senzalas. Essa providência resultava às vezes em pior prejuízo, pois os escravos recambiados freqüentemente estimulavam fugas de novos grupos, ou funcionavam como verdadeiros espiões.
Por isso mesmo, o Governador Bernardo de Miranda Henriques estabeleceu, em 1669, a regra de que os negros capturados nos Palmares deveriam ser vendidos em Recife, sob pena de confisco. Em 1670, o visível crescimento do quilombo e as constantes fugas faziam crescer a tensão, o que levou o Governador Fernão Coutinho a proibir o porte de qualquer arma a qualquer negro, mulato, índio, mameluco ou branco "que exerça qualquer ofício mecânico ou haja exercido", residente nas vilas em torno da área de negros livres.
As autoridades decidiram-se a tomar medidas mais enérgicas, organizando entradas de maior porte, que chegavam a mil homens e mais.
Entre 1671 e 1678, segundo um documento anônimo existente na Torre do Tombo, houve vinte e cinco expedições ofensivas, e sabe-se também que os governadores ordenavam a abertura de caminhos entre a densa mata, para facilitar os avanços brancos. Algumas das entradas foram organizadas por particulares, como a de Cristóvão Lins, fazendeiro a quem os palmarinos haviam incendiado os canaviais, em uma ação de represália, e outras eram empresadas por militares ou chefes de bandos armados, como a do Capitão André da Rocha em 1671, organizada pelo mestre-de-campo General Francisco Barreto, herói da guerra holandesa.
Algumas tiveram certo sucesso, como a de Manuel Lopes, de 1675, que provocou 800 baixas entre os negros, e outras foram um fracasso, como a de Domingos Gonçalo, de 1672, destroçado e sofrendo inúmeras deserções.
De qualquer forma, o conjunto dos ataques não conseguiu reduzir o quilombo, que continuou a crescer, ao mesmo tempo em que fortaleceu os homens de Ganga-Zumba, seja pelo prestígio crescente que este possuía entre os negros das senzalas, estimulados para a fuga, seja porque as entradas derrotadas deixavam aos guerreiros quilombolas muitas armas de fogo, de difícil obtenção por outros meios.
Em parte, a resistência do reduto durante tanto tempo se deveu às táticas de guerra empregadas pelos seus defensores. Os relatos dos brancos, preocupados em exaltar a glória dos chefes atacantes, para conseguir-lhes títulos e favores, falam sempre das "fugas desordenadas" dos negros dos mocambos atacados, e de sua incapacidade de manter batalhas longas.
Entretanto, os mocambos que se dizia estarem destruídos, como o do Macaco, aparecem inteiros nos relatos subseqüentes. Na verdade, as retiradas dos palmarinos, no caso de batalhas em que as armas de fogo do inimigo impossibilitavam a defesa prolongada, obedeciam a uma estratégia de tipo guerrilheiro, em que os "mocambos" eram simplesmente mudados de lugar, pela facilidade de reconstrução das toscas casas de palmeira.
O próprio "Macaco", que nos últimos tempos da guerra foi uma espécie de quartel-general de Zumbi, ao que tudo indica mudou pelo menos uma vez de lugar.
Por outro lado, depois que os brancos se retiravam, os sítios semidestruídos eram novamente ocupados e reconstruídos pelos rebeldes abrigados na mata, o Macaco teria sido destruído por Manuel Lopes em 1675, mas estava no mesmo lugar em relato posterior, de 1682.
Da mesma forma, mais tarde, quando o mocambo do Cucaú, chefiado por Zumbi, foi derrotado, os homens do chefe guerreiro se estabeleceram na serra do Barriga.
E no ataque final a esse reduto o seu nome, segundo os brancos, seria o de Macaco, no quadro dessa "guerra de movimento", as emboscadas dos palmarinos, facilitadas pelo conhecimento do terreno, infligiam perdas e terror aos inimigos, além de possibilitar a libertação de outros escravos.
Entretanto, os negros usavam também, para retardar as tropas contra eles enviadas, várias tipos de fortificações, aperfeiçoadas com o desenrolar da guerra. As paliçadas duplas que cercavam os mocambos eram protegidas por troncos, fojos (buracos dissimulados no fundo dos quais se armavam paus de ponta) e estrepes (lanças de madeira em riste, escondidas pela vegetação).
Quando os inimigos conseguiam incendiar as paliçadas, os quilombolas se retiravam, reagrupando-se às vezes para o contra-ataque algumas centenas de metros depois, como fizeram com os homens de Manuel Lopes em 1675, ou investindo diretamente sobre os brancos, corno na entrada tríplice de Jácome Bezerra (1672), em que a coluna procedente de Alagoas foi completamente destroçada.
As fortificações se aperfeiçoaram de tal forma que, no assalto final de 1694, o poderoso exército comandado por Domingos Jorge Velho deparou, estupefato, com uma "cerca" tríplice de 5 434 metros de comprimento, com guaritas e redutos, protegida por uma intricada "tranqueira" de vegetação, fojos e estrepes.
A artilharia empregada contra a cerca não foi capaz de abrir nela uma brecha suficiente para a penetração.
A Tregua

A luta contra os palmarinos, necessidade objetiva do poder colonial, era, no entanto um peso excessivo para os senhores de terras que a ela forneciam apoio. As tropas requisitavam das vilas e seus moradores muitos mantimentos, munição, escravos para transporte, dinheiro para soldos de uma parte dos combatentes, etc.
Embora a destruição dos Palmares fosse de seu interesse, como um todo, muito dos proprietários, como vimos, estabelecia formas de convivência com os quilombolas, que os deixavam em paz. Assim, estes colonos viam a luta como tarefa das autoridades, encarregadas da manutenção do sistema, e contribuíam contrariados com seus bens para a custosa guerra.
A situação se agravava com a crise do açúcar no mercado internacional, que deixava em dificuldades os produtores, num quadro de aumento de impostos, como aquele causado pela necessidade de pagar o dote à rainha da Inglaterra, conseqüência dos acordos de paz posteriores à derrota holandesa.
Nos anos subseqüentes, vários relatos de governadores fizeram-se porta-vozes das queixas dos habitantes de Porto Calvo, Serinhaém, Alagoas e outras vilas próximas; em 1686, o Governador Souto Maior reclamou à Coroa que "estes povos têm suprido das suas fazendas mais do que lhes era possível, e não é justo que assistam para esta empresa (contra o quilombo) com mais do que têm”.Com dois engenhos de Porto Calvo completamente destruídos, seus moradores apelavam através da Câmara para a "piedade" de Sua Majestade.
A Coroa, porém, se ressentia bastante de inúmeros problemas financeiros, no quadro de uma grave crise comercial, para poder custear completamente as expedições.
Em 1694, Caetano de Melo e Castro afirmava que a guerra dos Palmares havia custado, perto de 400 mil cruzados da Real Fazenda, e aos moradores e povo mais de um milhão. Entre as queixas de Porto Calvo, constava a de que, para pagar os impostos novos exigidos por Lisboa, os proprietários "vieram à praça arrematar-se as jóias do ornato de suas mulheres".
Além disso, nos anos 1686-87 grassou em Pernambuco terrível epidemia, conhecida como "mal-de-bicho", que debilitou ainda mais os brancos, ao mesmo tempo em que as revoltas de índios na região do Assu carreavam homens e recursos. Era necessário um alívio da situação, e a idéia de uma trégua com os Palmares cresceu entre as autoridades, era necessária, porém, uma vitória parcial que fortalecesse a posição do poder branco para o caso de uma negociação com a chefia quilombola.
Para isso foi chamado Fernão Carrilho, sertanista experiente e hábil lutador contra núcleos de negros e índios na selva, contando também com o "background" de ter reduzido dois quilombos no Sergipe, a mando do governador-geral do Brasil. O Capitão fez uma primeira tentativa inútil em 1676 contra os rebeldes, sofrendo com as dificuldades financeiras das vilas que deviam financiá-lo.
Em 1677, porém, o capitão conseguiu reunir recursos suficientes e partiu de Porto Calvo, atacando logo o mocambo de Aqualtune, mãe do rei Ganga-Zumba.
Surpreendidos, os negros se retiraram para um novo agrupamento em Subupira, pondo em ação a sua tática de movimentos; mas Fernão não desistiu e, demonstrando tirocínio militar, evitou lançar suas forças em conjunto contra os negros, preferindo pequenos ataques enquanto esperava reforços.
Assim que estes chegaram, sitiou o grande mocambo do Amaro (mais de mil casas), com grande sucesso, pondo em debandada Ganga-Zumba.
No conjunto da campanha, Carrilho aprisionou dois filhos do rei, Zambi e Acaiene, além de chefes de mocambo como Acaiúba e Ganga-Muíça, junto com dezenas de negros que foram distribuídos entre os cabos da tropa.
O relativo enfraquecimento do quilombo permitiu ao capitão oferecer, através de dois prisioneiros importantes, uma suspensão das hostilidades ao rei Ganga-Zumba, com a condição de que os palmarinos depusessem as armas.
A oferta dividiu o quilombo. Embora Ganga-Zumba tendesse a aceitá-la, preocupado com as perdas humanas e com a possibilidade de aproveitar a paz para refazer-se, ao que parece muito dos chefes mais jovem, como seu sobrinho Zumbi, percebendo o caráter irreconciliável da luta entre senhores e escravos, se opunham.
O irmão do rei, Gana-Zona, capturado pelos brancos, era favorável à iniciativa. Triunfando momentaneamente a opinião do chefe supremo, foi mandada uma "embaixada" a Recife, acompanhada de um alferes que tinha vindo renovar os apelos à pacificação.
A chegada a Recife, em 18 de junho de 1678, dos negros aquilombados, causou grande alvoroço.
Suados pela caminhada, mal vestidos e cabisbaixos, os quilombolas temidos vinham resignar-se perante o Governador Aires de Souza e Castro, que os recebeu condignamente. Afinal, tratava-se de simples negros, a quem a opinião dos proprietários escravistas jamais imaginara dispensar atenção.
Souza e Castro, percebendo a importância política do evento, ouviu atentamente as reivindicações rebeldes para se chegar a um acordo. Tanto que, uma vez concretizado este, muitos dos brancos não acreditaram, pelo caráter concessivo dos seus termos. Os palmarinos, contrariando todas as diretrizes do sistema colonial, teriam direito à delimitação de uma área para viver em liberdade, bem como ao plantio, comércio e trato com os brancos, sem o fisco real, desde que se desfizessem de seu equipamento militar. Se alguns brancos não viram com bons olhos o acordo, os quilombolas mais radicais o repudiaram inteiramente.
Zumbi, chefiando o mocambo do Cucaú, continuou a fazer incursões destinadas a libertar mais escravos, ao mesmo tempo em que pequenos grupos de brancos persistiam na apreensão de quilombolas surpreendidos nos caminhos da mata.
O governo, assim que ficou ciente da rebeldia do Cucaú, organizou a expedição de Gonçalo Moreira para destruí-lo. Nesse meio tempo, porém, Ganga-Zumba morrera envenenado, e Zumbi assumira o controle total dos palmarinos. Assim, quando Gonçalo atacou o mocambo rebelde, prendendo alguns chefes, como João Mulato e Canhonga, Zumbi não se encontrava mais no reduto, onde só haviam ficado 200 homens, e se internara na mata para organizar as novas defesas. Para os brancos a fase seguinte da luta seria uma das mais terríveis, a ponto de os colonos mandarem por várias vezes Gana-Zona a negociar sem sucesso a rendição do sucessor de Ganga-Zumba e de propor nova trégua em 1685, rejeitada pelo Conselho Ultramarino. Por bastante tempo ainda, Palmares resistiria.

O Ataque Final

Para a submissão final do quilombo, o poder pernambucano não seria suficiente. Resolveu-se contratar o paulista Domingos Jorge Velho, verdadeiro especialista no massacre de raças submetidas ao colonialismo.

Sertanismo de Contrato

Domingos Jorge Velho vinculava-se a uma particular atividade, muito comum no Brasil seiscentista como extensão das "bandeiras de apresamento”: o massacre e a submissão de grupos indígenas, contratados por autoridades do Nordeste, executados por paulistas experientes no ramo e eufemisticamente chamados pela historiografia de "sertanismo de contrato".
Desde os tempos de 1670, Domingos e seus capangas e índios armados combatiam no Piauí os tabajaras, oroazes e cupinharões, quando uma carta de 1685 do governador pernambucano Souto Maior o convidou para exterminar os Palmares.
Depois de uma extensa marcha até às proximidades do quilombo, a tropa paulista recebeu uma contra-ordem do governador-geral do Brasil, Matias da Cunha, mandando-os regressar ao norte, para combater os índios janduins que se rebelavam na região do Assu.
Só em 1687 um emissário de Jorge Velho, o padre carmelita Cristóvão de Mendonça, foi a Pernambuco negociar os termos da sua participação na guerra palmarina, mas o acordo só foi aprovado em 1691 pelo novo governador, Marquês de Montebelo. Depois de esmagar os janduíns, perdendo muitos homens, já com o título de mestre-de-campo, o chefe paulista dirigiu-se para os Palmares, aonde chegou em 1692.
O paulista Cardoso de Almeida, diante da ameaça de novas rebeliões índias, foi contratado para seu lugar. Sua tropa contava com quase mil homens, na sua maioria (cerca de 800) índios armados.
Os paulistas faziam jus ao exemplo de seu chefe, homem violento e cruel, detestado até pelos senhores de terra que dele necessitavam.
O bispo de Pernambuco dizia dele, em 1697: Este homem é um dos maiores selvagens com que tenho topado... nem se diferencia do mais bárbaro tapuia mais que em dizer que é cristão, e não obstante o haver-se casado de pouco, lhe assistem sete índias concubinas tendo sido a sua vida, desde que teve uso da razão, - se é que a teve, porque, se assim foi, de sorte a perdeu que entendo a não achará com facilidade, - até o presente, andar metido pelos matos à caça de índios, e de índias, estas para o exercício das suas torpezas, e aqueles para o granjeio de seus interesses.
Seus homens roubavam à larga os moradores das vilas por onde passavam, provocando inúmeras queixas, mas a violência maior era para com os índios, mesmo aqueles que viviam em paz com os brancos e que eram deixados assim pelas autoridades.
Certa vez, Domingos Jorge Velho assassinou duzentos indígenas, cortando-lhes as cabeças, exclusivamente porque estes se recusaram a acompanhá-lo na luta contra os Palmares.
A luta contra os negros rebeldes atraía os paulistas porque também oferecia alguns aspectos das vantagens do "sertanismo de contrato", na medida em que tradicionalmente as "entradas" capturavam os negros para venda, algumas vezes até com isenção dos quintos reais. Além disso, havia as ricas terras palmarinas, que mesmo antes da destruição do quilombo eram objeto de acirradas disputas.
O grupo de Jorge Velho fez acordos, ou "Capitulações", com o Governador Souto Maior, ratificados depois pelo Marquês de Montebelo, que lhe concediam amplos direitos, como o recebimento de munições, armas, mantimentos regulares, isenção de impostos sobre venda dos negros apreendidos, terras de sesmaria na região da Paraíba, e "perdão para quaisquer crimes anteriores", de que eles precisavam bastante.
Em dezembro de 1692, assim que chegaram aos Palmares, os paulistas se atiraram galhardamente sobre os mocambos, contando derrotá-los facilmente.
Não esperavam a resistência violenta e aperfeiçoada dos homens de Zumbi, e não conheciam perfeitamente o terreno íngreme. Apesar de reforçados por uma tropa de moradores alagoanos, eles não conseguiram vencer a surpreendente primeira "cerca", edificada a alguns quilômetros do antigo Macaco.
O ataque fracassou redondamente, fazendo fugir em debandada os homens de Alagoas e desarticulando completamente o esquema ofensivo do mestre-de-campo, desamparados e desmuniciados, "muito destroçados de fomes e marchas", os paulistas voltaram a Porto Calvo sentindo na garganta o sabor desconhecido de uma derrota violenta diante de "simples negros".
Em Porto Calvo, seu comportamento violento e desregrado valeu-lhes a hostilidade dos moradores, que com muito custo lhes arranjavam comida. A demora na chegada de munições fê-los ficar dez meses inativos, de janeiro a novembro de 1693, o que facilitou a debandada de mais alguns homens.
Com isto, e com as baixas da derrota junto ao quilombo, a gente de Domingos Jorge Velho ficou reduzida a 600 índios e 45 brancos. Quando chegaram as munições, o mestre-de-campo resolveu seguir assim mesmo para os Palmares, mas a incrível "cerca tríplice" do novo Macaco, na serra da Barriga, fê-lo desistir logo ao primeiro embate.
Nos dois meses seguintes, Domingos permaneceu acampado nas redondezas, enquanto providenciava poderosos reforços, recrutando homens e novos agrupamentos regulares em todo Pernambuco e vilas alagoanas. Ao mesmo tempo, valeu-se de um hediondo expediente para enfraquecer os palmarinos: vestiu alguns negros capturados com roupas de doentes e pestilentos, permitindo-lhes fugir para o reduto, espalhando ali moléstias contagiosas.
Em janeiro de 1694, chegaram os enormes reforços, carregando inclusive peças de artilharia, comandados por Zenóbio Accioly de Vasconcelos, Sebastião Dias e Bernardo Vieira de Melo.
O conjunto dos atacantes era agora bem maior em número e muito mais armado, chegando a quase três mil homens. Entretanto, a "cerca" de mais de cinco mil metros de mocambo, com todas as suas fortificações, situada em terreno escarpado, resistia firme ao sítio, que durou mais de 22 dias.
Disse depois Domingos Jorge Velho em carta ao Rei,
“Eram os exteriores tão cheios de estrepes ocultos, e de fojos cheios deles, de todas as medidas, uns de pés, outros de virilhas, outros de garganta, que era absolutamente impossível chegar alguém à dita cerca toda ao redor... e por ser o lugar muito escarpado, mal aparecia um soldado na extrema da estreparia para especular, e tirar algum estrepe, que era pescado na cerca; nem lhes era possível fazerem aproches, que a espessura e ligame da raizama do mato era tanta que não dera lugar a cavar”.
“A artilharia, por esses motivos, não adiantou muito”.

Assalto Final

Desde muitos anos antes, Zumbi era muito temido pelos brancos, que consideravam os seus companheiros próximos como "a melhor gente para combate". Em 1675, o Capitão Gonçalo Moreira chamava-o de "general-das-armas" do quilombo. Durante 22 dias, até à data de 6 de fevereiro de 1694, Zumbi comandava vigorosamente seus soldados sitiados no Macaco, repelindo vários ataques violentos.
Mas os brancos, além de sua superioridade numérica, dispunham da preciosa munição que os quilombolas tinham em pequena quantidade. Enquanto o inimigo era mantido à distância pelos estrepes, Zumbi economizava. Mas nos últimos dias de janeiro os comandantes do ataque puseram em execução uma tática mais eficaz de aproximação: passaram a construir cercas de madeira paralelas à "cerca" defensiva, que lhes permitiam limpar o terreno e chegar mais perto.
Nos dias 23 e 29 foram desfechados poderosos ataques a partir dessas fortificações recentes, o que exigiu um grande gasto de pólvora dos quilombolas. Finalmente, ao começar o mês de fevereiro, Domingos Jorge Velho teve a idéia de construir uma cerca oblíqua à fortificação rebelde, que aproximou rapidamente seus homens do objetivo.
Zumbi, ao perceber o êxito da manobra, sentiu aproximar-se o fim. Estava sem munição, com os brancos nas suas barbas.
Nessa madrugada, resolveu tentar a retirada estratégica. Silenciosamente, centenas de negros se esgueiraram para fora da paliçada, mas não foram felizes: as sentinelas inimigas perceberam seus movimentos e a tropa atacou maciçamente. Apanhados pelas costas, à beira de um penhasco, os palmarinos perderam mais de 400 homens nas primeiras horas da madrugada, deixando inúmeros feridos e prisioneiros, em uma fuga precipitada que os desarticulou definitivamente.
As operações posteriores de Domingos Jorge Velho, além de massacrar e assassinar centenas de negros que não puderam fugir do Macaco após sua tomada definitiva, no dia 6, impossibilitaram a plena rearticulação dos rebeldes. Depois de mais de 65 anos de luta, o glorioso reduto da liberdade foi derrotado.

Zumbi, fugitivo após o combate do dia 6 de fevereiro, jamais se entregou, realizando nos meses seguintes algumas operações de guerrilha com seus homens. Enquanto os brancos se digladiavam violentamente pela propriedade das terras conquistadas, em uma verdadeira "nova" guerra, ele permanecia internado na mata que tão bem conhecia. Mas os seus demais mocambos não puderam resistir à chacina entusiástica perpetrada pelos vitoriosos. Em novembro de 1695, um mulato seu auxiliar, violentamente torturado pelo mestre-de-campo paulista, revelou seu esconderijo.
No dia 20 desse mês, surpreendido por Domingos Jorge Velho, Zumbi ainda resistiu, com apenas 20 homens.
Em algumas horas, foram todos mortos.

O rei negro, combatendo até ao fim em uma luta que sabia irreconciliável, e que ameaçou seriamente a ordem colonial, foi decapitado. Espetada em um poste da praça principal de Recife, à vista dos negros carregadores em sua faina interminável, sua cabeça aguardou com trágica serenidade.
Na mágica obscuridade de seus rituais ocultos, os negros de Pernambuco e Alagoas imortalizaram o grande líder.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Pai Joaquim de Angola

Pai Joaquim de Angola

Pai Joaquim foi um príncipe negro oriundo da África, na região de Angola, aonde era chamado de Iquemí, negro guerreiro, majestoso e muito inteligente. Amava sua liberdade e seus amores, um legitimo filho do Orixá Xangô.
Mais entre guerras e principalmente pela invasão Européia no continente africano, Iquemí foi aprisionado, por tribos inimigas e vendido a mercadores brancos, no valioso mercado negro de escravos.
Iquemí, entrou em desespero, foi preso como animal, jogado em um porão de navio, aos gritos e desespero dos seus inimigos de cor.
Iquemí foi logo chamando a atenção de alguns brancos, principalmente pelo dono do navio, que logo observou o porte físico de Iquemí, sua beleza, dentes perfeitos, e logo viu em seus olhos que este negro não se submeteria aos maus tratos dos brancos, para se tornar um escravo.
O mercador de escravo chamava-se Manoel Joaquim, nascido em Lisboa, decidiu ficar com Iquemí na sua fazenda nas terras da Bahia.
Logo o mercador o Sr. Manoel se afeiçoou por Iquemí e passou a trata-lo com mais confiança, por sua valentia e o bom trato com os negros da fazenda.
Mal sabia que sobre a luz da aruanda ambos eram almas afins, unidos pelo destino, sem diferença de cor.
O Sr. Manoel, antes de adoecer, batizou Iquemí com um nome de branco e passou a chamá-lo de Manoel Joaquim de Luanda, o famoso Nego Pai Joaquim de Angola na Umbanda.
Sua fama correu em toda Bahia, promovendo a paz entre seus irmãos de cor, bondoso, um verdadeiro cristão.
Pai Joaquim recebeu seu primeiro chapéu de palha, dado pelo Bispo da Igreja Católica local, e morreu sem parar de pensar na sua velha e mãe África.
Como o Conto de Preto, escrito por mim narra a seguir:

Caminhei com fé e com dor.
Caminhei na fé e no amor.
Caminhei com Deus e Nossa Senhora.
Caminhei no chicote e fui banido de Angola.
Minha vida inteira Caminhei, sonhando em algum dia ser um Rei.
Rei de cor que nunca tive, para fugir do deslize, que não sei se tive.
Eu sou um Preto, sou crioulo, Sou um Preto estimado.
Minha vida foi sempre um Cajado, mais meu amor sempre teve ao meu lado.
Amor de Preto era uma Senhora, que nunca me abandonou, nem mesmo na degola.
Senhora Guerreira e Justiceira.
A Nossa Senhora de ANGOLA.
A Senhora dos Orixás, Mãe de todas as energias vitais, Mãe da natureza Feliz, Mãe dos Mortais e dos Imortais, a Minha Mãe Angola.
Ai que saudade de Angola.
Que agora não vejo mais, pois fui banido da minha Terra, para meus Caminhos de volta, jamais encontrar.
Que Preto sou eu?
Não sei dizer.
Que Preto tu és?
Não sei dizer.
O que sei dizer e que Preto eu sou, e Branco foste tu que me maltratou.
Sem pena e sem dor, e sem Amor.
Mais Branco não tenha mais dó, pois agora finalmente sou Rei.
Rei do meu amor.
Pois morri e acordei na minha Angola.
A Angola de Meu Pai, o Rei Redentor, o Nosso Senhor Deus Salvador.
Angola de Luanda, Huambo e Benguela, Angola de Lobito e Lubango.
Angola do Cristianismo, trazido pelos meus irmãos de cor de Rei, os Brancos Portugueses.
Angola das minhas tradições tribais.
A minha Mãe Angola, o meu Amor.
Caminhei com fé e com dor.
Caminhei na fé e no amor.
Caminhei com Deus e Nossa Senhora.
E nunca mais caminharei no chicote dos Reis de cor, que me baniram de Angola, o meu Amor.

Autor: Ronaldo Jatapequara

Pai Joaquim foi um príncipe negro oriundo da África, na região de Angola, aonde era chamado de Iquemí, negro guerreiro, majestoso e muito inteligente. Amava sua liberdade e seus amores, um legitimo filho do Orixá Xangô.
Mais entre guerras e principalmente pela invasão Européia no continente africano, Iquemí foi aprisionado, por tribos inimigas e vendido a mercadores brancos, no valioso mercado negro de escravos.
Iquemí, entrou em desespero, foi preso como animal, jogado em um porão de navio, aos gritos e desespero dos seus inimigos de cor.
Iquemí foi logo chamando a atenção de alguns brancos, principalmente pelo dono do navio, que logo observou o porte físico de Iquemí, sua beleza, dentes perfeitos, e logo viu em seus olhos que este negro não se submeteria aos maus tratos dos brancos, para se tornar um escravo.
O mercador de escravo chamava-se Manoel Joaquim, nascido em Lisboa, decidiu ficar com Iquemí na sua fazenda nas terras da Bahia.
Logo o mercador o Sr. Manoel se afeiçoou por Iquemí e passou a trata-lo com mais confiança, por sua valentia e o bom trato com os negros da fazenda.
Mal sabia que sobre a luz da aruanda ambos eram almas afins, unidos pelo destino, sem diferença de cor.
O Sr. Manoel, antes de adoecer, batizou Iquemí com um nome de branco e passou a chamá-lo de Manoel Joaquim de Luanda, o famoso Nego Pai Joaquim de Angola na Umbanda.
Sua fama correu em toda Bahia, promovendo a paz entre seus irmãos de cor, bondoso, um verdadeiro cristão.
Pai Joaquim recebeu seu primeiro chapéu de palha, dado pelo Bispo da Igreja Católica local, e morreu sem parar de pensar na sua velha e mãe África.
Como o Conto de Preto, escrito por mim narra a seguir:

Caminhei com fé e com dor.
Caminhei na fé e no amor.
Caminhei com Deus e Nossa Senhora.
Caminhei no chicote e fui banido de Angola.
Minha vida inteira Caminhei, sonhando em algum dia ser um Rei.
Rei de cor que nunca tive, para fugir do deslize, que não sei se tive.
Eu sou um Preto, sou crioulo, Sou um Preto estimado.
Minha vida foi sempre um Cajado, mais meu amor sempre teve ao meu lado.
Amor de Preto era uma Senhora, que nunca me abandonou, nem mesmo na degola.
Senhora Guerreira e Justiceira.
A Nossa Senhora de ANGOLA.
A Senhora dos Orixás, Mãe de todas as energias vitais, Mãe da natureza Feliz, Mãe dos Mortais e dos Imortais, a Minha Mãe Angola.
Ai que saudade de Angola.
Que agora não vejo mais, pois fui banido da minha Terra, para meus Caminhos de volta, jamais encontrar.
Que Preto sou eu?
Não sei dizer.
Que Preto tu és?
Não sei dizer.
O que sei dizer e que Preto eu sou, e Branco foste tu que me maltratou.
Sem pena e sem dor, e sem Amor.
Mais Branco não tenha mais dó, pois agora finalmente sou Rei.
Rei do meu amor.
Pois morri e acordei na minha Angola.
A Angola de Meu Pai, o Rei Redentor, o Nosso Senhor Deus Salvador.
Angola de Luanda, Huambo e Benguela, Angola de Lobito e Lubango.
Angola do Cristianismo, trazido pelos meus irmãos de cor de Rei, os Brancos Portugueses.
Angola das minhas tradições tribais.
A minha Mãe Angola, o meu Amor.
Caminhei com fé e com dor.
Caminhei na fé e no amor.
Caminhei com Deus e Nossa Senhora.
E nunca mais caminharei no chicote dos Reis de cor, que me baniram de Angola, o meu Amor.

Autor: Ronaldo Jatapequara

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Falanges de Pretos-Velhos


Falanges do Povo da Costa (Rei Cambinda)
Falanges do Povo do Congo (Rei Congo)
Falanges do Povo de Angola (Pai Joaquim)
Falanges do Povo da Guiné (Pai Guiné)
Falanges do Povo de Moçambique (Pai Jerônimo)
Falanges do Povo de Luanda (Pai José)
Falanges do Povo de Bengala (Pai Tomé).

Povo da Costa

Legião dos espíritos negros africanos escravizados que trabalham com a renovação de forças.
O sentido de trabalho desta legião é o de enxugar o pranto do filho e ajuda-lo a caminhar pelo vale de lágrimas.
A transformação se dá na coragem para enfrentar a dor e o sofrimento originário do passado.
Eles cruzam com a vibração de Yemanjá (Iemanjá) e aceitam, em suas obrigações, velas roxas, café, o rosário feito com contas de nossa senhora.
Vibra na praia e sua cor e o roxo com azul-claro.

Povo do Congo

Legião de espíritos dos negros escravos que trabalham com a força recém-transformada, isto é, com a força pura e nova, no sentido de vencer a dor envolvendo a alegria interior.
Eles vibram nas cores branca e preta e aceitam suas obrigações nas parais e campos floridos.

Povo de Angola

Legião de espíritos negros escravos que trabalham no fundamento da manutenção da força cósmica e de sua aplicação mística. Sua missão é trazer luz e força para os filhos que ainda estão no cativeiro, como escravos dos vícios, dos erros ou da maldade humana, ajudando-os a sobreviver e vencer o sofrimento pelo uso de todo misticismo da força, quer através de rituais, quer através de descontração e sublimação dos valores positivos da criatura humana.
Vibram nas cores branca e preta, que significa luz e sombra para produzir o terceiro elemento que é a penumbra. Muitas vezes esta legião assume unicamente a cor roxa, e neste caso isso representa a inclusão da cor vermelha entre o branco e o preto, cuja mistura gera o roxo, tornando-se assim misterioso, mas que representa o ponto místico da cor suprema.
Seu campo é a mata.
Povo de Guiné

Legião dos espíritos negros escravos que trabalham na cura de males físicos, através da magia e do conhecimento adquirido através de longos anos de estudo e vivencia nas coisas sagradas. Vibram nas cores brancas e pretas. Trabalham no cruzeiro do cemitério ou no mar.

Povo de Moçambique

Legião de espíritos negros escravos que trabalham com as forças que se transformam do cativeiro para liberdade, através da paciência em se suportar o cerceamento do direito de liberdade do ser humano. Vibram na cor roxa e seu campo de trabalho é a pedra da mata ou os oratórios construídos na mata.

Povo de Luanda

Legião de espíritos dos negros escravos que trabalham exclusivamente na caridade, embora se apresentem combativos e exigentes nos trabalhos executados dentro do ritual.
Mas, apesar desta característica de exigentes, são extremamente bondosos e usam seus profundos conhecimentos ritualísticos para combater demandas.
Vibram nas cores brancas, vermelhas e pretas, mais aceitam em suas obrigações velas brancas e pretas e roxas também.


Povo de Bengala

Legião dos negros escravos que trabalham com a missão de compreender o que representa para o ser humano a incerteza, a falta de resignação e o sofrimento, pois eles passaram por tudo isso na Terra.
Compreendem que muitas criaturas humanas, embora creiam na força divina, são levadas ao erro e ao desespero pelo excesso de amargura. Desenvolvem, então, uma energia que transmite a paz e a compreensão, alem de incentivar a caridade. Vibram nas cores brancas e pretas e aceitam suas obrigações nas colinas floridas.

Pretos –Velhos de Ogum

São mais rápidos em sua incorporação e não tem muita paciência com os médiuns, cambones e às vezes até consulentes. São diretos, não enfeitam muito as mensagens. São especialistas em consultas que dêem coragem e segurança aos indecisos.

Pretos –Velhos de Oxum

São mais lentos para incorporar e falar, passando total serenidade.
Enfeitam a conversa com os consulentes sem chocar, fazendo com que as pessoas reflitam sobre o assunto.
São especialistas em reflexão, de pensamento interior.
Pretos –Velhos de Xangô

São raros, mas e importante conhece-los.
Sua incorporação e rápida como a de Ogum trabalham nas causas da prosperidade e justiça.
Passam muita serenidade.

Pretos –Velhos de Yansã (Iansã)

São rápidos para incorporar e falar, pois a força da natureza que os rege é a mesma que os permite tratar de vários assuntos, devido à diversidade do Orixá.
Retribuem ao médium a defesa e cobram muita honestidade. Sua maior função é o descarrego, a limpeza do ambiente.

Pretos –Velhos de Oxossi

São os mais brincalhões, alegres e rápidos. Geralmente falam com varias pessoas ao mesmo tempo.
Sua especialidade é receitar remédios naturais para o corpo e alma. Falam com muita seriedade e não brincam com suas consultas

Pretos –Velhos de Obaluaê

São simples na forma de incorporar e falar.
Exigem muito dos seus médiuns, tanto na postura quanto na moral. Dedica-se muito a seus filhos, mais não deixam de cobrar e corrigir. São Chefes de Linha.
Pretos –Velhos de Yemanjá

Suas incorporações são belíssimas, mantendo, contudo enorme simplicidade. Sua fala e doce e meiga.
São pacientes e compreensivos com as mães, sua especialidade são os laços espirituais e familiares.
Trabalham no descarrego e passes.

Pretos –Velhos de Oxalá

São bem lentos na incorporação. Tornam-se belos pela simplicidade dos gestos. Raramente dão consulta.
Sua maior especialidade é o passe de energização.

O Nome dos Pretos-Velhos

Há muita controvérsia sobre o fato de o nome do Preto-Velho ser uma miscelânea de palavras portuguesas e africanas.
Voltemos ao passado, na época que cognominamos "A Idade das Trevas" no Brasil, dos feitores e senhores, senzalas e quilombos, sendo os senhores feudais brasileiros católicos ferrenhos (devido à influência portuguesa) não permitiam a seus escravos a liberdade de culto. Eram obrigados a aprender e praticar os dogmas religiosos dos amos.
Porém eles seguiram a velha norma: contra a força não há resistência, só a inteligência vence. Faziam seus rituais às ocultas, deixando que os déspotas em miniatura acreditassem estar eles doutrinados para o catolicismo, cujas cerimônias assistiam forçados.
As crianças escravas recém-nascidas, na época, eram batizadas duas vezes, a primeira, ocultamente, na nação a que pertenciam seus pais, recebendo o nome de acordo com a seita.
A segunda vez, na pia batismal católica, sendo esta obrigatória e nela a criança recebia o primeiro nome dado pelo seu senhor, sendo o sobrenome composto de cognome ganho pela Fazenda onde nascera (Ex: Antônio da Coroa Grande), ou então da região africana de onde vieram (Ex: Joaquim D'Angola).
O termo "Velho", "Vovô" e "Vovó" é para sinalizar sua experiência, pois quando pensamos em alguém mais velho, como um vovô ou uma vovó subentendemos que essa pessoa já tenha vivido mais tempo, adquirindo assim sabedoria, paciência, compreensão.
É baseado nesses fatores que as pessoas mais velhas aconselham.
No mundo espiritual é bastante semelhante, a grande característica dessa linha é o conselho?
É devido a esse fator que carinhosamente dizemos que são os "Psicólogos da Umbanda".

Eis aqui, como exemplo, o nome de alguns Pretos Velhos:
Pai Roberto, Pai Cipriano, Pai João.
Pai Congo, Pai José D'Angola, Pai Benguela.
Pai Jerônimo, Pai Francisco, Pai Guiné.
Pai Joaquim de Angola, Pai Antônio, Pai Serafim.
Pai Firmino D'Angola, Pai Serapião, Pai Serapião.
Pai Fabrício das Almas, Pai Benedito, Pai Julião.
Pai Jobim, Pai Jobá, Pai Jacó.
Pai Caetano, Pai Tomaz, Pai Tomé.
Pai Malaquias, Pai Dindó, Joaquim das Almas.
Vovó Maria Conga, Vovó Manuela, Vovó Chica.
Vovó Ana, Vovó Maria, Vovó Maria.
Maria Redonda, Vovó Catarina, Vovó Luiza.
Vovó Rita, Vovó Gabriela, Vovó Quitéria.
Vovó Mariana, Vovó Maria da Serra, Vovó Maria de Minas.
Vovó Rosa da Bahia, Vovó Maria do Rosário, Vovó Benedita, Vovó Cambinda (ou Cambina).

Normalmente os Pretos Velhos tratados por Vovô ou Vovó são mais velhos do que aqueles tratados por Pai, Mãe, Tio ou Tio ou Tia.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Causas da Obsessão

Causas da Obsessão

Causa moral - Há duas situações que podem levar um paciente a ser vítima da obsessão de fundo moral: o Espírito imaturo e o Espírito mal orientado. No primeiro caso, o da imaturidade espiritual, encontram-se pacientes poucos adiantados moralmente, com o psiquismo ainda dominado por pensamentos inferiores. A conduta dessas pessoas em torno de ações e pensamentos inferiores atrai Espíritos imperfeitos que se afinizam com elas. No começo da relação, verifica-se tão somente uma interferência em algumas atitudes do indivíduo. Mais tarde, aparece um delicado mecanismo de interinfluenciação, onde as vontades e os desejos são trocados entre perturbado e perturbador.
A seguir, a vontade do obsediado vai aos poucos sendo substituída pela do obsessor, instalando-se o fenômeno obsessivo. Este tipo de obsessão é comum e há situações em que seus portadores nem percebem que dividem sua vida mental com um Espírito inferior. Nesse tipo de obsessão não há grande chance de sucesso no tratamento. O que se pode conseguir é uma melhoria relativa, pois não há como mudar bruscamente o estado evolutivo de uma pessoa, fazendo-a entender conceitos que ainda não tem condições de conceber.
Na segunda situação, a do Espírito mal orientado, encontram-se os pacientes que tiveram educação deficitária no lar, na religião ou na escola. A inferioridade do mundo terreno, seus costumes e sistemas educativos estimulam no ser humano o desenvolvimento das paixões e o afastam de Deus. Estruturas psicológicas mal orientadas provocam nas pessoas condutas desregradas, levando-as a sintonizar com Espíritos inferiores. Pelo mesmo mecanismo citado acima, forma-se o processo obsessivo de fundo moral. Nesses casos, o tratamento será mais fácil, pois trata-se de um problema que uma simples orientação bem conduzida pode resolver.
Causa cármica – Classificam-se como obsessões cármicas os casos obsessivos relacionados com as vidas passadas de um paciente em desequilíbrio. Carma é um termo que se refere à bagagem histórica do Espírito. É o produto de todas as encarnações vividas pela entidade. A palavra "carma" é de origem sânscrita (uma das mais antigas línguas da Índia), e significa "ação". Pode-se dizer, a grosso modo, que o carma é a ação do Espírito em toda sua trajetória evolutiva, desde sua primeira encarnação.
Denominam-se obsessões de "causa cármica", aquelas em que as perseguições observadas são oriundas do relacionamento entre obsediado e obsessor, ocorridas em vidas passadas, neste ou noutros mundos. É um tipo de obsessão provocada pela desarmonia de conduta entre duas ou mais criaturas, gerando ódios, ressentimentos e vinganças que podem se estender às suas vidas futuras. A lei de ação e reação, ou causa e efeito, regula estes processos de ajuste entre as partes envolvidas, permitindo que as conseqüências deste plantio mal feito dêem seus frutos com vistas ao aprendizado de todos.
O comprometimento no passado, através das ligações vibratórias, atrai o desafeto desencarnado que, vendo consumida a fase de infância de seu inimigo, inicia sua influência maléfica sobre ele. No passar dos anos instala-se a obsessão, apresentando maior ou menor gravidade, segundo as circunstâncias que cercam cada caso.
Contaminações - Em A Gênese, Capítulo XIV, Allan Kardec fez um importante estudo sobre os fluidos espirituais. Examinando suas colocações, pode-se concluir que os ambientes materiais possuem uma espécie de atmosfera espiritual criada pelas pessoas que vivem em relação com eles.
Entende-se daí, que os centros espíritas, os terreiros de Umbanda, as Igrejas, os lares, os locais de trabalho e de diversões, constituem-se em verdadeiros núcleos de magnetismo espiritual, criados pelos pensamentos dos que os freqüentam. Aprendemos que nesses ambientes constituídos por pessoas mais ou menos imperfeitas, associam-se Espíritos desencarnados com tendências afins.
Nas investigações em torno da obsessão, realizadas no Grupo Espírita Bezerra de Menezes, verificou-se que freqüentadores de ambientes espirituais onde predominam a presença de Espíritos inferiores (terreiros primitivos, centros espíritas desajustados ou templos de seitas estranhas), podem ficar contaminados com sua influência. Tal domínio se forma em virtude da sintonia mental dos freqüentadores, com os Espíritos que habitualmente vão ali.
Denominou-se essas obsessões de "contaminações".
Nos casos dos terreiros ditos de Umbanda, os consulentes - como são chamados ali os necessitados - quase sempre vão solicitar ajuda para a solução de seus problemas materiais e amorosos. Nesses ambientes, geralmente predominam interesses imediatistas, ligados à vida material e ninguém costuma tratar das questões morais relativas ao futuro do indivíduo como Espírito imortal.
Os Espíritos inferiores que militam nesses ambientes ajudam as pessoas interferindo em suas vidas, causando-lhes contrariedades ou efeitos materiais que iludem os que não possuem conhecimento da verdade ensinada pelo Consolador.
Quando o freqüentador se afasta desses lugares, a influência dos maus Espíritos nem sempre cessa. Ao notarem que estão perdendo suas vítimas, podem instalar a desarmonia emocional e mesmo material na vida dos envolvidos.
As obsessões causadas por contaminações são mais freqüentes do que se imagina. Na região de São José do Rio Preto, SP, por exemplo, perfazem 40% do total dos casos examinados. As contaminações também podem ocorrer através das atividades de centros espíritas mal orientados. Quando pessoas novatas, sem estudo ou preparo, são colocadas em reuniões mediúnicas para exercitar suas faculdades, é muito comum caírem sob o domínio de Espíritos inferiores, terminando como vítimas da obsessão. Grupos espíritas dominados por entidades ignorantes e malévolas são verdadeiros focos de contaminação espiritual, que prejudicam os que ali vão buscar ajuda e orientação para suas vidas.
Auto-obsessão - Na auto-obsessão, a mente da pessoa enferma encontra-se numa condição doentia semelhante às neuroses.
É uma situação onde ela atormenta a si mesmo com pensamentos dos quais não consegue se livrar. Há casos mais graves em que o paciente não aceita que seu mal resida nele mesmo.
As causas deste tipo de obsessão residem nos problemas anímicos do paciente, ou seja, nos seus dramas pessoais, dessa ou de outras encarnações. São traumas, remorsos, culpas e situações provindas da intimidade do seu ser, que prejudicam-lhe a normalidade psicológica.
Quando se examina esses casos mediunicamente, pode-se encontrar Espíritos atrasados ou sofredores associados à vida mental dos doentes. Mas, as comunicações indicam que eles estão ali por causa da sintonia mental com o obsediado. Agravam seu mal, mas não são os causadores dele.
A causa central desse tipo de obsessão reside no paciente, que se auto-atormenta, numa espécie de punição a si mesmo. A mente de um auto-obsediado é fechada em si mesma e é preciso abri-la para a vida exterior, se quisermos ajudá-lo.
A psicoterapia convencional pode e deve ser utilizada no tratamento da auto-obsessão. Juntando-se a ela a terapia espírita, fundamentada na evangelização e no ascendente moral, pode-se obter resultados satisfatórios. O tratamento abrirá a prisão psíquica em que o indivíduo vive, libertando-o da escravidão mental.

A obsessão apresenta três graus principais bem caracterizados:
Obsessão simples - O médium tem perfeita consciência de que não obtém nada de bom e não se ilude sobre a natureza do Espírito que se obstina em se manifestar por ele e do qual tem o desejo de se desembaraçar. Esse caso não oferece nenhuma gravidade: não é senão um simples desgosto, e o médium a ele cede por deixar momentaneamente de escrever. O Espírito, cansando-se de não ser escutado, acaba por se retirar.
Fascinação - É muito mais grave, no sentido de que o médium se ilude completamente. O Espírito que o domina ganha sua confiança ao ponto de paralisar seu próprio julgamento na análise das comunicações e lhe faz achar sublimes as coisas mais absurdas. O caráter distintivo desse gênero de obsessão é:
de provocar nos médiuns uma excessiva suscetibilidade;
de levá-lo a não achar bom, justo e verdadeiro senão o que ele escreve, a repelir e mesmo tomar pelo lado mau todo conselho e toda observação crítica;
a romper com seus amigos antes de convir que está enganado;
a ter inveja de outros médiuns, cujas comunicações são julgadas melhores que as suas;
a querer se impor nas reuniões espíritas, das quais se afasta quando não pode aí dominar.
Chega, enfim, a sofrer uma tal dominação, que o Espírito pode compeli-lo aos meios mais ridículos e os mais comprometedores.

Subjugação - Designada outrora sob o nome de possessão, é um constrangimento físico sempre exercido por Espíritos da pior espécie e que pode ir até à neutralização do livre arbítrio. Ela se limita, freqüentemente, a simples impressões desagradáveis, mas provoca, algumas vezes, movimentos desordenados, atos insensatos, crises, palavras incoerentes ou injuriosas, as quais aquele que dela é objeto compreende por vezes todo o ridículo, mas da qual não pode se defender. Esse estado difere essencialmente da loucura patológica, com a qual se confunde erradamente, porque não há nenhuma lesão orgânica; a causa sendo diferente, os meios curativos devem ser outros. Aplicando-lhe o procedimento ordinário das duchas e dos tratamentos corporais, chega-se, muitas vezes, a determinar uma verdadeira loucura, aí onde não havia senão uma causa moral.
Na loucura propriamente dita, a causa do mal é interior; é preciso procurar restabelecer o organismo ao estado normal.
Na subjugação, a causa do mal é exterior e é preciso desembaraçar o doente de um inimigo invisível opondo-lhe, não remédios, mas uma força moral superior à sua.
A experiência prova que, em semelhante caso, os exorcismos não produziram jamais nenhum resultado satisfatório, e que antes agravaram do que melhoraram a situação.
Só o Espiritismo, indicando a verdadeira causa do mal, pode dar os meios de combatê-lo. É preciso, de certa forma, educar moralmente o Espírito obsessor; por conselhos sabiamente dirigidos, chega-se a torná-lo melhor e a fazê-lo renunciar voluntariamente ao tormento do doente, e então este está livre.
A subjugação obsessiva, o mais ordinariamente, é individual; mas, quando uma falange de Espíritos maus se abate sobre uma população, ela pode ter um caráter epidêmico. Foi um fenômeno desse gênero que ocorreu ao tempo do Cristo; só uma poderosa superioridade moral podia domar esses seres malfazejos, designados então sob o nome de demônios, e devolver a calma às suas vítimas.
Um fato importante a considerar é que a obsessão, qualquer que seja sua natureza, é independente da mediunidade, e é encontrada em todos os graus, principalmente a última, em uma multidão de indivíduos que jamais ouviram falar de Espiritismo. Com efeito, os Espíritos tendo existido de todos os tempos, deveram, de todos os tempos, exercer a mesma influência; a mediunidade não é uma causa, mas apenas um modo de manifestação dessa influência; de onde se pode dizer, com certeza, que todo médium obsedado deve suportar de uma maneira qualquer, e, freqüentemente, nos mais vulgares atos da vida, os efeitos dessa influência; que sem a mediunidade ela se traduziria por outros efeitos, atribuídos muitas vezes a essas moléstias misteriosas que escapam a todas as investigações da medicina.
Pela mediunidade, o ser malfazejo traiu sua presença;
sem a mediunidade era um inimigo oculto do qual não se desconfiava.

AUTO-OBSESSÃO

Neste caso o Ser é responsável por todos os sinais e sintomas que apresenta, considerando ser ele o mentor intelectual de todos os seus equívocos, passados e presentes. Assim sendo, em dado momento da vida, começa a tomar consciência dos fatos e a partir daí exercita-se em culpas, que geram cobranças. Então teremos os conflitos interiores, com os pensamentos fixado em alguma coisa, tanto em vigília como em desdobramento. Após a instalação do quadro, caminha com desinteresse total pela vida, isola-se e apresenta baixas vibrações em seu campo eletromagnético, permitindo a partir deste momento a afinização com irmãos em grandes desequilíbrios, grandes cobradores, evoluindo assim com graves quadros específicos que se enquadram nas doenças nervosas e mentais.
Muita gente procura o Espiritismo, queixando-se de perseguições do Invisível. Os que reclamam contra essas perturbações não estão abandonados de seus guias espirituais.
A proteção da Providência Divina estende-se a todas as criaturas.
A perseguição de entidades sofredoras e perturbadas justifica-se no quadro das provações redentoras, mas, os que reclamam contra o assédio das forças inferiores dos planos adstritos ao orbe terrestre, devem consultar o próprio coração antes de formularem as suas queixas, de modo a observar se o Espírito perturbador não está neles mesmos.
Há obsessores terríveis do homem, denominados:
“orgulho”,
“vaidade”,
“preguiça”,
“avareza”,
“ignorância”
ou “ma-vontade”, e convém examinar se não se é vitima dessas energias perversoras que, muitas vezes, habitam o coração da criatura, enceguecendo-a para a compreensão da luz de Deus. Contra esses elementos destruidores faz-se preciso um novo gênero de preces, que se constitui de:
trabalho,

esforço e boa-vontade

HETERO-OBSESSÃO

É um quadro que se caracteriza pela influência de espíritos encarnados ou desencarnados junto a outros seres que também podem estar em condições iguais. Este processo pode ser ativo ou passivo, com ação direta no corpo físico ou mental e sua intensidade pode variar de leve, moderada a grave, dependendo o merecimento do Ser envolvido. Podemos classificá-la em quatro situações:
Obsessão entre os encarnados– muito comum, principalmente nos relacionamentos entre os membros da família, considerando que o lar é o ambiente propício a reajustes e resgates. Teremos então esposas dominadoras, mães neuróticas, maridos desajustados e incompreensíveis, filhos rebeldes, etc., criando assim um meio de ódios, raivas, violências, ciúmes, invejas, com grandes desequilíbrios em que os seres se bombardeiam mutuamente pelos pensamentos.
Obsessão de encarnados para com os desencarnados – é um processo muito mais frequente que se possa imaginar. Os espíritos desencarnados partem para a Pátria Espiritual e deixam aqui seus entes queridos, os amigos com os quais estavam envolvidos por vícios ou paixões e outras afinidades. Neste novo plano desejam fazer mudanças de comportamento e de condutas, traçando novos rumos; todavia, por vezes, sentem-se “chamados”, atraídos por pensamentos, palavras e atos dos encarnados e muitas das vezes ficam imantados ao seu campo eletromagnético. (Ver: Espíritos vampirizados)
Obsessão de desencarnados para com os encarnados – é a interferência de espíritos desencarnados junto aos encarnados, em função de ligações afetivas, paixões, ódios, vinganças, etc., trazendo-lhes grandes desarmonias, tanto a nível do corpo físico como mental, promovendo junto ao Ser, uma série de sinais e sintomas, com doenças específicas.
Obsessão de desencarnados para com os desencarnados – este tipo de obsessão ocorre em condições idênticas aos outros. No mundo espiritual os seres se ligam em função das afinidades, desejos e paixões, e a partir daí temos um grande número de espíritos que são dominados e escravizados por outros espíritos.

Entrevista e elogio feito por um amante do Saber

Entrevista e elogio feito por um amante do Saber

Laura Schlessinger é uma personalidade do rádio americano que distribui conselhos para pessoas que ligam para seu show. Recentemente ela disse que a homossexualidade é uma abominação de acordo com Levíticos 18:22 e não pode ser perdoado em qualquer circunstância. O texto abaixo é uma carta aberta para Dra. Laura, escrita por um cidadão americano:

"Cara Dra. Laura,

Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso. Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levíticos 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate. Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como segui-las:


a) Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levíticos 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia ?

b) Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

c) Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levíticos 15:19- 24). O problema é: como eu digo isso a ela? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

d) Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso ? Por que eu não posso possuir canadenses?

e) Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo?

f) Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levíticos 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

g) Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

h) A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

i) Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levíticos 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas ? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco).

j) Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levíticos 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levíticos 19:19, porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliéster). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levíticos 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levíticos 20:14)?

Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar. Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.

Seu discípulo"

P.S. Restam ainda algumas dúvidas com relação ao Novo Testamento - Claro que em Romanos 1:18-29 também diz que a homossexualidade é abominação contra a natureza, o que fecha o círculo contra qualquer argumento contrário. Gostaria, portanto, sem abusar de sua boa vontade, que me ajudasse a resolver os seguintes pontos sobre os quais tantos apostatam da palavra de Deus.

1. O que fazer com as mulheres que pregam, oram ou cantam nas igrejas, o que é terminantemente proibido em I Cor. 14:34-37 e em I Tim 2:10-15. Devem ser entregues a Satanás para a destruição da carne conforme: I Cor. 5:5 e I Tim. 1:20?

2. Que atitude tomar com as mulheres que assumem liderança, que não são submissas a seus maridos e usam jóias e tranças, o que a palavra de Deus diz que não deve acontecer em I Tim. 2:9-15, Tito 2:5, Efé. 5:22-24 e Col. 3:18?

3. As mulheres que cortam o cabelo e não usam o véu, I Cor. 11:2-16, devem ser expulsas da Igreja depois de exortadas duas vezes, como manda Mat. 18:15-19?

4. Já que o conselho é para que o homem não toque mulher, I Cor. 7:1 e 27, não seria legal incentivar as mulheres a tocarem os homens, permitindo assim que nos divirtamos um pouco, sem desobedecermos a palavra de Deus?

5. Temos que começar um movimento de restauração da escravidão para que Efé. 6:5-9, Col. 3:22, I Pe. 2:18, I Cor. 7:20-24 e I Tim. 6:1-2, onde temos preciosos mandamentos de como tratar escravos e de como eles devem se comportar, possam ser obedecidos?

6. A instrução de não comer com os desobedientes, II João 10-11, I Cor. 5:11, e nem saudá-los, inclui acenos e ois e comer no mesmo restaurante com eles?

Eu sei que a senhora tem estudado todas as escrituras extensivamente, por isso estou certo de que pode ajudar a esclarecer esses detalhes. De novo, muito obrigado por lembrar-nos sempre de que a palavra de Deus deve ser seguida ao pé da letra! Seu discípulo devoto!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Conto de Preto

Conto de Preto

Caminhei com fé e com dor.
Caminhei na fé e no amor.
Caminhei com Deus e Nossa Senhora.
Caminhei no chicote e fui banido de Angola.
Minha vida inteira Caminhei, sonhando em algum dia ser um Rei.
Rei de cor que nunca tive, para fugir do deslize, que não sei se tive.
Eu sou um Preto, sou crioulo, Sou um Preto estimado.
Minha vida foi sempre um Cajado, mais meu amor sempre teve ao meu lado.
Amor de Preto era uma Senhora, que nunca me abandonou, nem mesmo na degola.
Senhora Guerreira e Justiceira.
A Nossa Senhora de ANGOLA.
A Senhora dos Orixás, Mãe de todas as energias vitais, Mãe da natureza Feliz, Mãe dos Mortais e dos Imortais, a Minha Mãe Angola.
Ai que saudade de Angola.
Que agora não vejo mais, pois fui banido da minha Terra, para meus Caminhos de volta, jamais encontrar.
Que Preto sou eu?
Não sei dizer.
Que Preto tu és?
Não sei dizer.
O que sei dizer e que Preto eu sou, e Branco foste tu que me maltratou.
Sem pena e sem dor, e sem Amor.
Mais Branco não tenha mais dó, pois agora finalmente sou Rei.
Rei do meu amor.
Pois morri e acordei na minha Angola.
A Angola de Meu Pai, o Rei Redentor, o Nosso Senhor Deus Salvador.
Angola de Luanda, Huambo e Benguela, Angola de Lobito e Lubango.
Angola do Cristianismo, trazido pelos meus irmãos de cor de Rei, os Brancos Portugueses.
Angola das minhas tradições tribais.
A minha Mãe Angola, o meu Amor.
Caminhei com fé e com dor.
Caminhei na fé e no amor.
Caminhei com Deus e Nossa Senhora.
E nunca mais caminharei no chicote dos Reis de cor, que me baniram de Angola, o meu Amor.





Autor: Ronaldo Jatapequara
Este Conto esta concorrendo no concurso de conto da www.uea.edu.br

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Escravidão na Amazônia

ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA NA AMAZÔNIA E A CABANAGEM

Quando se fala da presença africana na Amazônia, há, muitas vezes, certo espanto. Ainda é muito difundida a imagem de uma região Norte bastante "despovoada" no período colonial, com poucos ocupantes brancos em meio às populações indígenas.
A escravidão negra na Amazônia foi, de fato, menos expressiva em termos quantitativos quando comparada a outras regiões do país. Contudo, o papel dos escravos na criação de formas originais de vida e de adaptação às condições de vida na Amazônia não foi menor.
As marcas dessas formas de vida e das lutas contra a escravidão estão presentes até hoje na memória dos quilombolas.
Os primeiros negros chegaram à Amazônia por intermédio de ingleses, ainda no início do século XVII. Os ingleses, assim como franceses, holandeses e espanhóis, tentaram, por diversas vezes, apossar-se do extremo norte do Brasil.
Os colonos portugueses apenas se fizeram mais presentes na região amazônica a partir do século XVII tendo como principal preocupação defender e ocupar o território. Mas, para essa ocupação e também para a exploração econômica da região, a falta de mão-de-obra colocou-se, desde o início, como um problema. Num primeiro momento, a solução encontrada foi a escravização dos indígenas, os chamados "negros da terra".
A utilização de índios como escravos, apesar de usual, enfrentava resistências. A Igreja Católica, por exemplo, condenava essa prática. Existia inclusive uma lei, datada de 1680, que proibia a escravização de índios nas terras da colônia. Porém, os próprios chefes de província ignoravam essas proibições, o que gerava sérios conflitos entre os colonos e as diversas missões religiosas atuantes na região.
Para contornar os conflitos e garantir a mão-de-obra, a solução foi a adoção da escravidão de negros já existente em outras regiões do Brasil.
O fluxo de escravos negros aumentou consideravelmente a partir da segunda metade do século XVIII, quando se formou o Estado do Grão-Pará e Maranhão, vinculando a administração da região diretamente a Portugal.
A compra de escravos negros foi subsidiada pela Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão em troca do monopólio do comércio na região amazônica. No período que vigorou de 1755 a 1778, a companhia trouxe à região mais de 25 mil escravos. Desse total, aproximadamente 15 mil se estabeleceram onde hoje é o Estado do Pará.
Com a extinção da companhia, o comércio de escravos continuou, porém em menor número. A partir desta época, os negros passaram a vir de outras regiões do país ou através do contrabando. O tráfico permaneceu ativo até as primeiras décadas do século XIX.
Os escravos trazidos da África trabalharam em atividades agrícolas (nas fazendas de cana-de-açúcar, de algodão, de cacau e de tabaco), no extrativismo das chamadas "drogas do sertão" (como a canela, a baunilha, o cravo, as raízes aromáticas, a salsaparrilha, o urucum e as sementes oleaginosas), além de servirem em trabalhos domésticos e em construções urbanas públicas e privadas.
O aumento da oferta de mão-de-obra africana na Amazônia não eliminou a escravidão indígena. "Negros da terra" e "negros da África" dividiram, por muito tempo, o mesmo mundo de trabalho.
O contato e a interação social entre os índios e os negros resultaram na incorporação e na troca de elementos da cultura material e imaterial. Os quilombolas aprenderam com os índios alguns segredos das "matas" permitindo-lhes fugir e vencer os obstáculos com mais êxito. Além disso, lutaram juntos numa das principais insurreições populares do país no século XIX, a Cabanagem.
Mesmo estando sujeitos a uma série de limitações e de violências impostas pelo sistema escravista, os escravos negros buscaram a construção de certos espaços que lhes permitissem conquistar momentos de autonomia e de liberdade. Exemplos disso são as fugas, as rebeliões e, principalmente, os quilombos. Estes são fatos que demonstram que o escravo jamais exerceu um papel passivo na história brasileira
Foi ao longo dos séculos XVIII e XIX que se formou a maior parte dos quilombos no atual Estado do Pará. Ao fugir para esses aldeamentos, conhecidos também por mocambos, o escravo conquistava a garantia de autonomia e de liberdade de ação e de movimento.
Segundo o historiador Vicente Salles, a fuga para os mocambos representava, no início, uma solução difícil e arriscada. O escravo aventurava-se sozinho, indo abrigar-se, muitas vezes, em aldeias indígenas.
Com o tempo, aprenderam a se organizar. A fuga passou a ser uma estratégia coletiva de resistência ao regime escravista. Surgiram personagens como os acoutadores, que se encarregavam de dirigir os grupos de fugitivos para os quilombos e se tornaram os principais inimigos dos proprietários de escravos.
Organizada a fuga, os quilombos cresceram rapidamente, pois eram o principal foco de atração dos negros que escapavam das cidades e das fazendas. A fuga de escravos tornou-se um processo contínuo e rotineiro a partir da segunda metade do século XVIII e início do XIX, quando também aumentaram as notícias sobre os quilombos na imprensa local.
A desestabilização político-econômica ajudou nesse processo. A decadência dos engenhos de cana-de-açúcar, por exemplo, facilitou a fuga dos escravos. Além disso, após a independência do Brasil, as crises políticas em Belém, capital da província, possibilitaram a fuga em massa dos escravos que viviam na área urbana.
Os mocambos passaram a ser tão numerosos que, não raro, a imprensa alegava que havia mais negros morando em quilombos do que em cativeiros.
A destruição dos quilombos, portanto, passou a ser uma prioridade do governo. Diversas expedições foram organizadas a fim de capturar os negros fugidos. Em 1841, uma corporação especial de capitães-do-mato foi criada para dar maior cobertura às ações.
Vicente Salles aponta cinco principais regiões do Grão-Pará onde se concentraram os quilombos nos séculos XVIII e XIX: entre os Rios Gurupi e Turiaçu; na bacia do Rio Tocantins; entre os Rios Mojuim e Mocajuba; na bacia do Rio Trombetas e na chamada Guiana Brasileira.
Gurupi e Turiaçu
Entre os Rios Gurupi e Turiaçu, situados na divisa com o atual Estado do Maranhão, havia um porto que servia ao comércio negreiro. A região era um importante núcleo intermediário de migração de escravos das províncias do Grão-Pará e do Maranhão.
Os escravos desta região fugiram para as florestas próximas, principalmente no vale do Maracasumé, onde, em meados do século XIX, encontraram e tornaram conhecidas as minas de ouro de aluvião.
Ainda hoje se encontram comunidades quilombolas nessa região, como Camiranga e Bela Aurora, que já estão com suas terras tituladas.

Bacia dos Rios Guajará e Tocantins
Outra região de grande concentração de quilombos foram as bacias dos Rios Acará, Moju, Capim, Igarapé-Mirim e Tocantins, no nordeste paraense. Neste local encontravam-se lavouras de cana-de-açúcar com grande concentração de mão-de-obra escrava.
Por ser uma região muito próxima a Belém, a nucleação e a fuga organizada de escravos eram favorecidas. Foi nela que se localizou um dos maiores mocambos paraenses: o Caxiú. Na época da Cabanagem, os negros desse quilombo aderiram em massa ao movimento, liderados pelo líder negro Félix.
Muitos mocambos cresceram tanto que acabaram se tornando vilas, como o de Caraparu, nas proximidades de Belém. Este quilombo deu origem às atuais comunidades de Macapazinho, Boa Vista do Itá , Conceição do Itá e São Francisco do Itá.

Rios Mojuim e Mocajuba
Uma terceira região de concentração de quilombos foi a dos Rios Mojuim e Mocajuba, onde hoje se localizam os municípios de São Caetano de Odivelas e de Curuçá. No caminho de Mocajuba a Belém havia vários mocambos menores que ajudavam a despistar os capitães-do-mato do caminho até o quilombo de Mocajuba.
Bacia do Rio Trombetas
Os maiores mocambos nesta região estavam situados nos altos dos Rios Trombetas, Erepecuru e Curuá, em trechos navegáveis, acima das cachoeiras. A escolha do lugar era estratégica. Tratava-se de áreas onde a captura era difícil, mas possibilitavam o plantio de alguns produtos para a subsistência e também o pequeno comércio realizado por meio de intermediários ou diretamente nas cidades da região.
Guiana Brasileira (Amapá)
Na região conhecida como Guiana Brasileira (atual Estado do Amapá) havia vários quilombos nas margens do rio Anauerapucu. Grande era o intercâmbio e a comunicação entre os negros do Brasil e da Guiana Francesa.

FONTES CONSULTADAS
Funes , Eurípides A.
Nasci nas matas, nunca tive senhor - história e memória dos mocambos do Baixo Amazonas. Tese de Doutorado apresentada na FFLCH/USP, São Paulo, 1995.
Lima, Leandro Mahalem de.
Os índios e a Cabanagem. Relatório de Iniciação Científica apresentada à FAPESP, São Paulo, 2003.
Queiroz, Jonas M. & Gomes, Flávio.
"Em outras margens: escravidão africana, fronteiras e etnicidade na Amazônia". In: Gomes, F. & Del Priore, M. (orgs.)
Os senhores dos rios - Amazônia, margens e história, Rio de Janeiro, Elsevier/Campus, 2004, p. 141-163.
Salles, Vicente.
O negro no Pará sob o regime de escravidão. Rio de Janeiro, FGV/UFPA, 1971.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Os Pretos

As grandes metrópoles do período colonial: Portugal, Espanha, Inglaterra, França, subjugaram nações africanas, fazendo dos negros mercadorias, objetos sem direitos ou alma, os negros africanos foram levados a diversas colônias espalhadas principalmente nas Américas e em plantações no Sul de Portugal e em serviços de casa na Inglaterra e França.
Os traficantes coloniais utilizavam-se de diversas técnicas para poder arrematar os negros, chegavam de assalto e prendiam os mais jovens e mais fortes da tribo, que viviam principalmente no litoral Oeste, no Centro-oeste, Nordeste e Sul da África, trocavam por mercadoria: espelhos, facas, bebidas, etc.
Os cativos de uma tribo que fora vencida em guerras tribais ou corrompiam os chefes da tribo financiando as guerras e fazendo dos vencidos escravos. No Brasil os escravos negros chegavam por Recife e Salvador. Os primeiros grupos que vieram para essas regiões foram os bantos; cabindos; sudaneses; yorubás; geges; hauçá; minas e malês. A valorização do tráfico negreiro, fonte da riqueza colonial, custou muito caro; em quatro séculos, do XV ao XIX, a África perdeu, entre escravizados e mortos 65 a 75 milhões de pessoas, e estas constituíam uma parte selecionada da população. Arrancados de sua terra de origem, uma vida amarga e penosa esperava esses homens e mulheres na colônia: trabalho de sol a sol nas grandes fazendas de açúcar. Tanto esforço, que um africano aqui chegado durava, em média, de sete a dez anos! Em anos!
Em troca de seu trabalho os negros recebiam três "pês": Pau, Pano e Pão e reagiam a tantos tormentos suicidando-se, evitando a reprodução, assassinando feitores, capitães-do-mato. Em seus cultos, os escravos resistiam, resistiam, simbolicamente, à dominação.
A Religião africana era, e ainda é, um ritual de liberdade, protesto, reação à opressão. As rezas, rezas, batucadas, danças e cantos eram maneiras de aliviar a asfixia da escravidão, desta cultura religiosa nasceu a Umbanda. A resistência também acontecia na fuga das fazendas e na formação dos quilombos, onde os negros tentaram reconstituir sua vida africana. Um dos maiores quilombos foi o Quilombo dos Palmares onde reinou Ganga Zumba ao lado de seu guerreiro Zumbi (protegido de Ogum). Os negros que se adaptavam mais facilmente à nova situação recebiam tarefas mais especificas como:
Reprodutores, caldeireiro, carpinteiros, tocheiros, trabalhador na casa grande (escravos domésticos) e outros, ganharam alforria pelos seus senhores ou pelas leis do Sexagenário, do Ventre livre e, enfim, pela Lei Áurea.
A Legião de espíritos chamados "Pretos Velhos" foi formada no Brasil, devido a esse torpe comércio do tráfico de escravos arrebanhados da África.
Estes negros aos poucos conseguiram envelhecer e constituir mesmo de maneira precária uma união representativa da língua, culto aos Orixás e aos antepassados e tornou-se um elemento de referência para os mais novos, refletindo os velhos costumes da Mãe África. Eles conseguiram preservar e até modificar, no sincretismo, sua cultura e sua religião.
Idosos mesmo, poucos vieram, já que os Senhores feudais preferiam os jovens e fortes, tanto para resistirem ao trabalho braçal como às exemplificações com o látego.
Porém, foi esta minoria o compêndio no qual os incipientes puderam ler e aprender a ciência e sabedoria milenar de seus ancestrais, tais como o conhecimento e emprego de ervas, plantas, raízes, enfim, tudo aquilo que nos dá graciosamente a mãe natureza. Mesmo contando com a religião (Candomblé, Cultos aos mortos, etc), suas cerimônias, cânticos, esses moços logicamente não poderiam resistir à erosão que o grande mestre, o tempo, produz sobre o invólucro carnal, como todos os mortais.
Mas a mente não envelhece, apenas amadurece, não podendo mais trabalhar duro de sol a sol, constituiu-se a nata da sociedade negra subjugada. Contudo, o peso dos anos é implacavelmente destruidor, como sempre acontece, o ato final da peça que encarnamos no vale de lágrimas que é o planeta Terra é a morte.
Mas eles voltaram e a sua missão não estava ainda cumprida, precisavam evoluir gradualmente no plano espiritual.
Muitos ainda, usando seu linguajar característico, praticando os sagrados rituais do culto, utilizados desde tempos imemoriais, manifestou-se em indivíduos previamente selecionados de acordo com a sua ascendência (linhagem), costumes, tradições e cultura.
Teriam que possuir a essência intrínseca da civilização que se aprimorou após incontáveis anos de vivência.
Assim sendo, surgi a Umbanda em 1908, que nasceu com a contribuição primeira de uma entidade chamada Pai Antonio, um Preto-Velho que como muitos outros que surgiram vieram trazer sua contribuição, com suas curas e rezas e principalmente sua simplicidade e sabedoria.
Sabedoria esta que se resumi a uma só fé, a fé no ser supremo, nosso pai Oxalá (Deus) ou Zâmbi para muitos ou Obatalá ou ate mesmo a Jesus Cristo.
Pois a maior influencia da Umbanda e o Cristianismo, logicamente com suas raízes afros, mais como costumo dizer, afro-brasileira.
Os Pretos-Velhos de Umbanda
Esta Falange abrange nossos queridos Pretos-Velhos e Pretas-Velhas, trabalhando sobre orientação de Omolu/Obaluaê ou Yorimá.
É um conselheiro por excelência da gente moça do século que segue, sua natureza racial expressa naturalmente boa vontade, paciência, tolerância, mansuetude e alegria que se configuram na música, na dança mágica, vigorosa e jubilosa, no gestual comedido, na fala calma e mansa de quem já compreenderam perfeitamente que a vida é a suprema doação do Grande Ser Olorum ou Zâmbi.
Desencarnados, ampliaram seu senso de observação sobre si mesmos e sobre as pessoas encarnadas da dita sociedade brasileira de consumo, imitadora do primeiro mundo. Originalmente dos cinco milhões de escravos aqui desencarnados, somam-se a estes outros milhões de descendentes, dos quais quase um terço optou pela nova e genuína religião implantada no plano físico, no Brasil de 1908. Aproximou-se dos sinhozinhos e sinhazinhas por meio da mediunidade – ponte entre os dois planos, para prestarem favores de alma para alma. Descobriram que este intercâmbio gera moeda de evolução para uns e outros, quando bem sucedido; e esses favores estendem-se até o último dia do desencarne de seu tutelado.
Na hora extrema, conduzindo-os, seguramente, aos familiares que se foram antes para o plano das emoções e ansiosos aguardam pela chegada dos que ficaram.
No Candomblé os Pretos-Velhos são considerados Eguns.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Fraternidade de Umbanda Divina Luz

Fraternidade de Umbanda Divina Luz

Fraternidade de Umbanda criada com intuito de difundir a Religião de Umbanda de uma maneira mais pratica e aberta a todos encarnados ou desencarnados que com pensamento elevado ao nosso Pai maior (Oxalá), queiram contribuir com sua presença e palavras de fé e amor para com todos os presentes.
Os Trabalhos da Fraternidade se dará de duas formas, uma linha de mesa, com encontros semanais, onde se chamara Fraternidade Espiritualista Divina Luz, onde todo e qualquer espírito de Luz que queria contribuir com suas palavras de amor, esperança e caridade possam vim para cumprir os preceitos do Pai Maior Oxalá.
Conceito de Fraternidade
A fraternidade é um conceito filosófico profundamente ligado às idéias de Liberdade e Igualdade e com os quais forma o tripé que caracterizou grande parte do pensamento revolucionário francês. Vale lembrar que dos três, foi o único que não esteve no lema Iluminista, que era "Liberdade, Igualdade, Progresso".
A idéia de fraternidade estabelece que o homem, enquanto animal político, fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente os diferencie: são como irmãos (fraternos). Este conceito é a peça-chave para a plena configuração da cidadania entre os homens, pois, por princípio, todos os homens são iguais. De uma certa forma, a fraternidade não é independente da liberdade e da igualdade, pois para que cada uma efetivamente se manifeste é preciso que as demais sejam válidas.
A fraternidade é expressa no primeiro artigo da Declaração universal dos direitos do homem quando ela afirma que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
A palavra é eventualmente confundida com a expressão caridade e solidariedade, embora elas tenham significados radicalmente diferentes. Enquanto a fraternidade expressa a dignidade de todos os homens, considerados iguais e assegura-lhes plenos direitos (sociais, políticos e individuais), a idéia de caridade cria a desigualdade entre os homens, na medida em que faz crer que alguns deles possuem mais direitos e são superiores e portanto são generosos quando os compartilham com os demais.


Descreverei um texto que caracteriza um dos principais fundamentos desta Fraternidade de Umbanda.

(Texto Postado Originalmente na Lista do Grupo de Estudos do IPPB na Internet)
- Por Luis Medeiros –
Ser um Espiritualista Universalista é, acima de tudo, assumir um compromisso consigo mesmo e com a Espiritualidade Maior de ter mente e coração abertos, e de sempre compartilhar com os companheiros de jornada o pouco do que aprendeu; pois o Conhecimento é dádiva do Supremo e, assim como a Verdade, não pertence a nenhum ser em particular.
Para compartilhar, faz-se necessário ser sabidamente humilde; para Ensinar e ser humildemente sábio para Aprender... Sim! Pois a sabedoria não é algo que simplesmente se é dada de presente! Ela precisa ser conquistada através de um longo caminho. Este caminho envolve muita paciência, tempo, conhecimento, amor e dedicação.
Trilhar o caminho da Espiritualidade é agir com conhecimento de causa. É carregar dentro de si uma chama com o poder de iluminar as almas. Mas é saber que a primeira alma a ser iluminada por esta chama será a sua mesma... E isso fará com que seu lado escuro, suas falhas e defeitos, lhe sejam revelados. Saber trabalhar isso faz parte do crescimento do ser.
Uma das principais falhas que o Espiritualista pode cometer é a de sempre achar que ainda não está pronto para compartilhar, de achar que ainda não se sente suficientemente preparado para assumir de frente o seu compromisso sagrado. Normalmente, sentem-se inferiores e inseguros perante companheiros que demonstram um nível maior.
Portanto, fica aqui um aviso: não tenham medo de dizer o que pensam e o que sentem a respeito de algo, desde que o façam com intenções nobres. Não tenham medo de achar que se passarão por ridículos ou de ser motivo de chacotas dos companheiros, pois aqueles que agirem assim, mesmo que demonstrem grande conhecimento, não merecem ser chamados de Espiritualistas e estão, na verdade, muito abaixo de quem criticam.
Ser Espiritualista é saber tolerar as limitações relativas ao grau de desenvolvimento espiritual de cada ser, da mesma forma que seres muito mais elevados toleram as nossas.
O verdadeiro Espiritualista sabe que não serão poderes paranormais nem percepção extra-sensorial que o farão melhor ou pior do que qualquer outro ser, mas, sim, sua conduta perante a vida e os desafios que ela lhe oferece.
Enfim... Ser Espiritualista é buscar o equilíbrio entre mente e coração... Entre razão e emoção... Entre o pensar e o sentir! Paz e Luz

Características do Trabalho de Mesa

1. Orações iniciais.
2. Palavras iniciais do Orador da mesa (Zelador de Umbanda), com estudos sobre a Bíblia, Livro dos Espíritos, Livros de Umbanda, Romances espíritas ou Espiritualistas ou qualquer Texto sobre palavras de amor, caridade e espiritualidade, que possam elevar nossos pensamentos.
3. Incorporação e mensagens dos espíritos de luz.
4. Subida dos Guias ou Espíritos presentes.
Meditação com pensamento elevado.
5. Passes Magnéticos.
6. Pedidos para Oxalá feitos no pequeno Papel, que será depositado em seu firmamento.
7. Oração final e Água fluídica para todos os presentes.

Obs. Inicio do trabalho (2) Sábado às 19 horas, tempo estimado de no Maximo 02 horas.


Características dos Trabalhos de Terreiro

1. Defumação de Abertura de Trabalho com pontos Cantados.
2. Orações Iniciais
3. Pontos Cantados de Abertura
4. Pontos Cantados de Força para Incorporação do Guia Chefe e Guias trabalhadores. Com Atabaques e Palmas.
5. Atendimento para o Publico.
6. Passes Mediúnicos e Trabalhos de Descarga.
7. Pontos de Subida para as Entidades.
8. Palavras Finais e Orações de Encerramento.

Obs: Inicio do trabalho (2) Sábado às 19 horas, tempo estimado de no Maximo 03 horas.

Técnicas de desobsessão

Alguns estudiosos do Espiritismo afirmaram que não existem técnicas para se tratar da obsessão e chegaram a depositar nas mãos dos Espíritos ou do tempo, a solução de casos, que se classificavam desde os mais comuns, até os mais graves na patologia obsessiva. Como veremos, as coisas não são tão simples assim. Existem fatores e providências que precisam ser observados e tomadas nesse procedimento terapêutico, para que se consiga libertar definitivamente uma pessoa obsedada do seu obsessor.
A isso denominamos técnicas de desobsessão.
A desobsessão envolve uma série de condutas tendo em vista livrar o obsedado de sua prisão mental. A técnica básica do tratamento da obsessão fundamenta-se na doutrinação dos Espíritos envolvidos, encarnados e desencarnados. Doutrinar significa instruir em uma doutrina. É isso que se vai fazer com o paciente, com sua família, se necessário, e com o Espírito que lhe atormenta. Atualmente o termo "doutrinar" vem sendo substituído por "esclarecer". Dizem que é para evitar o sectarismo. Porém, o termo é lícito em relação à doutrina e significa no fundo a mesma coisa. Tudo uma questão de forma.

Doutrinação do obsedado (indireta e direta)

Allan Kardec afirma que a pessoa obsedada precisa trabalhar para seu melhoramento moral e, diz textualmente, que a cura de quase todos os casos de obsessão têm solução através desse esforço. Portanto, a equipe de desobsessão deverá ajudar os pacientes no procedimento de automelhoria. Para isso se valerá da instrução direta e indireta. Veremos mais adiante, que existem vários procedimentos (denominados coadjuvantes), que poderão ajudar o enfermo no processo de libertação. Nessa parte do trabalho, vamos falar apenas da instrução considerada fundamental: a orientação na sala de entrevistas e o esclarecimento através das palestras.
Para o tratamento da maioria dos casos de obsessão, a instrução dada na sala de entrevista não será necessária. Basta que o paciente seja submetido às orientações vindas por meio das palestras doutrinárias (doutrinação indireta), realizadas nas reuniões públicas da casa espírita. Associa-se a esse trabalho de esclarecimento, um ou dois métodos coadjuvantes e o resultado não demorará a aparecer.
É importante salientar que as reuniões de palestras públicas são as que se reveste de maior gravidade, justamente porque se encarrega de despertar nas pessoas, um novo homem, cristão, sábio, bom e justo. Para maiores detalhes sobre a realização de dos trabalhos públicos, consultar "Reuniões Públicas".
Nos casos de obsessão grave, que envolvem degeneração, subjugação ou fascinação, será fundamental que o paciente tenha instrução semanal na sala de entrevistas (doutrinação direta). São situações em que a pessoa enferma está sem condições de agir por sua vontade ou tomar decisões a respeito de sua conduta. É nesse ponto que deverá entrar a orientação moral da Doutrina Espírita, ministrada por pessoa convenientemente preparada.

Doutrinação do Espírito obsessor

O codificador do Espiritismo, Allan Kardec, se expressa nos seguintes termos, a respeito da necessidade de se doutrinar Espíritos obsessores, quando se lida com os casos mais graves de obsessão espirítica:
"Nos casos de obsessão grave... Faz-se também necessário, e acima de tudo, agir sobre o ser inteligente, com o qual se deve falar com autoridade, sendo que essa autoridade só é dada pela superioridade moral. Quanto maior for essa, tanto maior será a autoridade. E ainda não é tudo, pois para assegurar a libertação, é preciso convencer o Espírito perverso a renunciar aos seus maus intentos; despertar-lhe o arrependimento e o desejo do bem, através de instruções habilmente dirigidas com a ajuda de evocações particulares, feitas no interesse de sua educação moral" – (Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 28:81).
Está claro que não se pode extinguir as obsessões graves, se não houver um trabalho feito junto do Espírito obsessor, para convencê-lo a deixar de perturbar o obsedado. Isso só poderá ser feito por meio de sessões mediúnicas realizadas exclusivamente para esse fim (o paciente nunca deve estar presente). Através de evocações particulares, pode-se conseguir contato com o Espírito perturbador, obter dele informações dos motivos da perseguição e instrui-lo para que abandone seus intentos.
Todos os fatos narrados nessas comunicações mediúnicas são de caráter íntimo e não deverão ser revelados nem para o paciente, nem para outros membros do centro espírita que não façam parte da equipe que cuida dessa tarefa. Pode-se dizer a uma pessoa que ela tem um problema espiritual e que será ajudada pela casa espírita, sem que se tenha de tratar de detalhes. Dizer a alguém que está perturbado, que ele foi um carrasco ou um suicida numa outra encarnação, só vai complicar sua situação mental e deixá-lo mais desequilibrado ainda.
Ressaltamos que as condições morais elevadas do doutrinador e dos médiuns que vão tratar das evocações e instrução de obsessores são essenciais para o sucesso da tarefa libertadora nos procedimentos desobsessivos.

Doutrinação da família do obsedado

Na patologia obsessiva é muito comum encontrar-se casos de obsessão que envolva a responsabilidade familiar nas causas da enfermidade. Algumas famílias são formadas por Espíritos que viveram juntos em encarnações passadas e cometeram delitos graves contra alguém que, mais tarde, por guardar ódio no coração, tornou-se um obsessor. Quando nas investigações em torno da obsessão se suspeitar desse envolvimento, convém que a família do perturbado seja convidada a freqüentar a casa espírita pelo menos durante o período de tratamento. Isso poderá facilitar e apressar a obtenção de resultados satisfatórios.
Durante esse período de estadia da família nas sessões públicas, a Espiritualidade terá condições de inspirar bons pensamentos e resoluções junto aos seus membros, ajudando-lhes a encontrar novos caminhos para suas vidas. Mesmo sem ter um envolvimento ostensivo, é muito importante que a família do assistido seja conscientizada de suas responsabilidades a fim de dar o apoio necessário ao doente, ajudando sobremaneira na sua recuperação.